sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Raposa e a Vinha

"Recompensou-me o SENHOR conforme a minha justiça e retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos, porque guardei os caminhos do Senhor e não me apartei impiamente do meu Deus" (Salmo 18:20-21).
 
Uma raposa pusera-se a namorar avidamente uma vinha tão bem cercada que não havia brecha por onde entrasse.
Deu voltas e mais voltas, até que topou um resquício entre os mourões da cerca.
Lançara-se por ele, impetuosamente, mas era tão estreito que mal pode insinuar a cabeça. Esforça-se daqui, tenta dali, mas tudo em vão. Veio-lhe, então, a idéia, um plano singular: "Se eu pudesse, monologava ela, emagrecer bastante passaria por esta brecha".
Resolvida a vencer a prova, submeteu-se a um estranho teor de vida: ficou três dias sem provar alimento, e pôs-se tão fina e magrinha que mais parecia um palito.
Toda ancha com o sucesso, esgueira-se pelo delgado vão e entra radiante, na vinha. Ali pode pagar-se de tudo quanto sofrera e passou alguns dias na mais regalada abundância.
Chegado o tempo de sair, receosa dos donos do vinhedo que não podiam tardar, corre à brecha por onde entrara e tenta meter-se por ela.
Aconteceu, porém, que a infortunada, naqueles poucos dias de regabofe, engordara tanto que não mais cabia ali.
Mais triste do que um mocho, desiste do intento e resolve repetir a provação por que passara, pondo-se, de novo, em rigoroso jejum até que, novamente magra como um esqueleto, lhe foi possível safar-se pelo agulheiro.
Estava, porém, tão fraca e debilitada, que parecia um cadáver.
Livre daquele cativeiro, olhou melancolicamente para a vinha e disse-lhe: "Adeus, não me apanharás mais. És sedutora e deliciosa. Tens em abundância frutos saborosos, mas que importa? De ti saio como entrei".
Assim o homem em relação aos bens e riquezas da vida terrena.
Ensinava o rabi Meir: O homem quando nasce tem os braços estendidos para a frente, como se dissesse: "É meu o mundo. Todo o mundo é meu!".
Quando morre, os traz ao longo do corpo, como a prevenir os que se aferram aos bens materiais: "Nada levo deste mundo. Deixo da Vida o que a Vida me deu!"

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Árvore

Um dia, diante da velha árvore torta, um pinheiro todo vergado pelo tempo, o sábio da aldeia ofereceu a sua própria casa para aquele discípulo que "conseguisse ver o pinheiro na posição correta".

Todos se aproximaram e ficaram pensando na possibilidade de ganhar a casa e o prestígio, mas como seria "enxergar o pinheiro na posição correta"?

O mesmo era tão torto que a pessoa candidata ao prêmio teria que ser no mínimo contorcionista. Ninguém ganhou o prêmio e o velho sábio explicou ao povo ansioso que, ver aquela árvore em sua posição correta, era "vê-la como uma árvore torta".

Só isso!

Nós temos, em nós, esse jeito, essa mania de querer "consertar as coisas, as pessoas, e tudo o mais" de acordo com a nossa visão pessoal. Quando olhamos para uma árvore torta, é extremamente importante enxergá-la como árvore torta, sem querer endireitá-la, pois é assim que ela é.

Se você tentar "endireitar" a velha árvore torta, ela vai rachar e morrer, por isso é fundamental aceitá-la como ela é.

Nos relacionamentos, é comum um criar no outro expectativas próprias, esperar que o outro faça aquilo que ele "sonha" e não o que o outro pode oferecer.

Sofremos antecipadamente por criarmos expectativas que não estão alcance dos outros. Porque temos essa visão de "consertar" o que achamos errado.

Se tentássemos enxergar as coisas como elas realmente são, muito sofrimento seria poupado.

Os pais sofreriam menos com os seus filhos, pois, conhecendo-os, não colocariam expectativas, que são suas, na vida dos mesmos, gerando crianças doentes, frustradas, rebeldes e até vazias. Tente, pelo menos tente, ver as pessoas como elas realmente são, pare de imaginar como elas deveriam ser, ou tentar consertá-las da maneira que você acha melhor.

O torto pode ser a melhor forma de uma árvore crescer.

Não crie mais dificuldades no seu relacionamento, se vemos as coisas como elas são, muitos dos nossos problemas deixam de existir, sem mágoas, sem brigas, sem ressentimentos.

E, para terminar, olhe para você mesmo com os "olhos de ver" e enxergue as possibilidades, as coisas que você ainda pode fazer e não fez. Pode ser que a sua árvore seja torta aos olhos das outras pessoas, mas pode ser a mais frutífera, a mais bonita, a mais perfumada da região, e, isso, não depende de mais ninguém para acontecer, depende só de você.

O Último dos Três

O primeiro dia do mês de Moarrã do ano 785, o sultão Musa el-Hadi-Billab, califa de Bagdá, entrou mais cedo do que de costume no grande salão reservado às audiências públicas.
O poderoso monarca fazia-se acompanhar de seu grão-vizir, emires, ulemás, oficiais e guardas do palácio.
Três homens, apenas, aguardavam, naquele momento, o soberano abássida.
Era uma espécie de gigante o primeiro. Os braços hercúleos, os pulsos grossos, os ombros largos denunciavam o homem-força. Tinha, entretanto, a barba e o cabelo prematuramente embranquecidos.
O segundo mostrava a fisionomia pálida e abatida das pessoas corroídas por fundos desgostos e prolongadas preocupações e vigílias. A testa saliente, o olhar vago e o acanhado físico refletiam o homem de ciência.
Finalmente, o terceiro, que ostentava na cinta um longo punhal à maneira dos beduínos deixava ver um rosto semeado de cicatrizes e parecia, pelos movimentos arrebatados e nervosos, pelo olhar irrequieto e penetrante, um homem agitado e violento. Era um homem de ação.
O califa El-Hadi, voltando-se para os nobres muçulmanos que o acompanhavam, comentou em voz baixa:
- Que desejarão de mim estes indivíduos? Por que vieram cedo ao divã das audiências?
E fazendo ao primeiro deles, que parecia o mais velho, carinhoso aceno, permitiu-lhe que se aproximasse, enquanto os outros de pé, imóveis, esperavam a vez.
- Que desejas de mim, meu amigo? Que grave e imperioso motivo te traz à minha presença em hora tão matinal?
- Emir dos Crentes - respondeu o desconhecido inclinando-se respeitoso -, venho pedir-vos um grande favor. Há vinte anos que sirvo às vossas ordens e tenho desempenhado as minhas obrigações com lealdade e coragem. De há tempos a esta parte, o trabalho começa, porém, a pesar-me e crescente esmorecimento me invade. Quero voltar para a pequenina aldeia em que nasci e onde tenciono passar sossegado de corpo, senão de espírito, os últimos anos que pela vontade de Allah me restam ainda de vida. Solicito-vos, ó Rei Venturoso, a necessária licença e um auxílio para a viagem. Creio ter feito jus a essa recompensa, pois esgotei as forças e malbaratei o coração no desempenho do encargo que me destes. Sinto-me, na verdade, cansado.
- Cansado? - insistiu o sultão. - Cansado de quê? Parece-me ainda um homem forte e apto para o trabalho.
- Ó Emir dos Crentes! - retorquiu com firmeza o velho - por mais inverossímil que vos pareça não quero ocultar a verdade: estou cansado de matar!
- De matar? - interrogou sobressaltado o monarca. - Quem és afinal e onde foste buscar essa espécie de canseira?
- Que Allah vos conserve, ó Rei - tornou o interpelado. - Sou Acrema, o carrasco da corte. Tenho executado já muitos condenados à morte e sinto-me enfadado desse ofício execrando. Quero partir para aguardar tranqüilo na aldeiazinha em que nasci o termo dos meus dias soturnos.
- Tens razão - concordou o califa. - Terás o auxílio necessário à viagem. Podes partir!
Voltando-se para o segundo dos súditos, o de rosto macerado, o soberano renovou a pergunta que fizera ao primeiro:
- Por que desejas sair de Bagdá?
- Que Allah, o Exaltado, vos cubra de benefícios - disse, aproximando-se com o devido respeito. - Venho também solicitar-vos uma grande mercê. Quero também abandonar esta cidade para ir morar com um filho meu que tem uma propriedade para além das montanhas de Helif. Sei que amanhã parte para Mossul uma das vossas caravanas e venho pedir-vos permissão para ir em companhia dos vossos guias e auxiliares, pois assim tenho a certeza de fazer viagem segura pelas estradas mais perigosas do deserto.
- E por que coisa trocas tu esta formosa Bagdá - perguntou, curioso, o califa - pelos melancólicos cerros de Helif?
- Sinto-me fatigado, ó Rei Magnânimo - acudiu logo o interlocutor.
- Fatigado? - repetiu o califa. - De que?
- Estou fatigado - obtemperou plácida e tristemente o muçulmano - estou fatigado de ver morrer!
Por Allah! - refletiu o sultão. - Aquele homem, simples e modesto, de fisionomia serena e bondosa, alegava, com a maior calma e naturalidade, que estava cansado de ver morrer! Quem seria ele, e que estranhas funções exerceria?
- Comendador dos Crentes! - começou o desconhecido - embora vos pareça insólita a minha resposta, ela exprime a inteira verdade. Estou, positivamente, cansado de ver morrer! E, afinal, nada mais simples: sou médico. Na piedosa e nobre profissão que exerço, encontro-me quase sempre em luta desigual com a Morte: os fracos recursos da ciência a que dei o melhor das minhas energias, não permitem que possa o homem sair vitorioso dessa luta desequilibrada. Assim é que muitas vezes tenho visto morrer nestes braços, depois de tudo tentar, pessoas queridas, entes necessários à vida de outros entes!  A princípio as agonias do trespasse me deixavam indiferente. Agora, porém, velho e alquebrado, não mais quero continuar nesta vida, em que se por vezes tive pequenos júbilos, ao atenuar os padecimentos de outrem, muitas mais vi a morte trazer a corações generosos a miséria, o luto, a desesperação! - Presenciar alheias tristezas e angústias deixou-me também angustiado e triste. Quero, pois, afastar-me de onde a cada passo encontro um infortúnio que sangra ao lado de um infortúnio iminente!
- Dou-te inteira razão - afirmou o rei. - Partirás na primeira caravana com as regalias e deferências que mereces.
E dirigindo-se, por fim, ao último solicitante, o sultão interrogou-o nos mesmos termos:
- E tu, meu filho, que queres de mim?
- Rei Generoso! - exclamou o último dos três, beijando humildemente a terra entre as mãos. - Que Allah, o Sábio, o justo, vos conserve por muitos anos e vos cubra de bênçãos! Venho à vossa presença esperançado em obter da vossa incomparável bondade a mesma concessão que os meus dois companheiros lograram alcançar!
- Por Maomé! ó meu amigo! - observou o rei, sorridente e irônico. - Será possível que também tu te sintas cansado?
E disposto a pilheriar um pouco, para divertir os nobres que assistiam à cena, acrescentou folgazão:
- Estarás cansado, meu amigo, de matar ou de ver morrer?
- Estou cansado, ó Emir dos Crentes! - respondeu o desconhecido sem se embaraçar e como se correspondesse à pilhéria, - estou justamente cansado de matar e de ver morrer!
Emires, ulemás, oficiais, todos fitavam assombrados o filaucioso, certos de que o atrevido beduíno iria pagar bem caro tamanho atrevimento.
- Estou cansado de matar - confessou ele com sincera e deliberada veemência, - e cansado estou também de ver morrer os meus irmãos, os meus amigos, os meus companheiros!
- Quem és, afinal? - bradou o sultão arrebatadamente, a fisionomia carregada, os olhos fuzilantes. - Quem és tu, gênio do mal, que matas como o carrasco e, a exemplo do médico, vês morrer os teus amigos e irmãos?
Perfilando-se e erguendo repentinamente a fronte como para mostrar bem os gilvazes do rosto, o homem respondeu, com uma saudação militar:
- Rei! - eu sou o Soldado!

O Oleiro e o Poeta

O caso da rua El-Kichani parecia realmente muito sério. Uma rixa inesperada surgira entre o jovem Fauzi, o poeta, e o oleiro Nagib. Os curiosos amontoavam-se junto à casa do oleiro. Cruzavam-se as interrogações: - “Que foi? Como foi? Brigaram?”. Um guarda, para evitar que o tumulto se agravasse, resolveu levar os dois litigantes à presença do cádi, isto é, do juiz.
Esse juiz, homem íntegro e bondoso, interrogou em primeiro lugar o oleiro, que parecia o mais exaltado:
- Mas afinal, meu amigo? De que se trata? Parece-me que foste agredido. É verdade?
- Sim, senhor juiz - confirmou o oleiro desabridamente. – Fui agredido em minha própria casa por esse poeta. Estava, como de costume, trabalhado em minha oficina, preparando dois novos vasos coloridos que pretendia vender ao príncipe Rauzi, quando ouvi um ruído surdo e a seguir um baque. Percebi logo de que se tratava. O poeta Fauzi, que cruzava naquela ocasião a rua Bardauni, havia atirado violentamente uma pedra e partira um dos vasos - um vaso já pronto, que estava a secar junto à porta! Ora, senhor juiz, isso é um absurdo, um crime! Estou no meu direito. Exijo uma indenização!
Voltou-se o juiz para o poeta e interpelou-o serenamente:
- Que tens a alegar, meu amigo? Como justificas o teu estranho proceder?
- Senhor cádi - respondeu o jovem, o caso é muito simples e quero crer que a razão milita a meu favor. Há três dias passados voltava eu da mesquita quando, ao cruzar a rua Bardauni, em que mora o oleiro Nagib, percebi que ele declamava um de meus poemas. Notei com tristeza que os versos estavam errados. O oleiro mutilava, isto é, quebrava os meus versos. Aproximei-me dele e delicadamente ensinei-lhe a forma certa, que ele repetiu sem grande dificuldade. No dia seguinte, ao passar novamente pelo mesmo lugar, ouvi ainda o oleiro a repetir os mesmos versos deturpados, isto é, com a forma erradíssima. Cheio de paciência, tornei a ensinar-lhe a forma correta, e pedi-lhe que não tornasse a mutilar os meus poemas. Hoje, finalmente, regressava eu do trabalho quando, ao passar pela rua Bardauni, percebi que o oleiro declamava a minha linda poesia estropiando as rimas e mutilando vergonhosamente os versos. Não me contive. Apanhei de uma pedra e parti com ela um de seus vasos. Como vê, senhor juiz, o meu procedimento não passou, afinal, da represália de um poeta, que se sente ferido em sua sensibilidade artística por um indivíduo grosseiro.
Ao ouvir as alegações do poeta, o juiz, dirigindo-se ao oleiro, declarou:
- Que esse caso, Nagib, sirva de lição para o futuro! Procura respeitar as obras alheias a fim de que os outros artistas respeitem as tuas obras. Se te julgavas com o direito de quebrar o verso do poeta achou-se também o poeta com o direito de quebrar o teu vaso. Lembra-te de que o poeta é o oleiro da frase, ao passo que o bom oleiro é o poeta da cerâmica!
E a sentença do ilustre cádi foi a seguinte:
- Determino, pois, que o oleiro Nagib fabrique um novo vaso de linhas perfeitas e cores harmoniosas, no qual o poeta Fauzi escreverá um de seus lindos versos. Esse vaso será vendido em leilão e a importância da venda repartida igualmente entre ambos.
A notícia do caso espalhou-se pela cidade. O oleiro vendeu muitos vasos com versos do poeta Fauzi e ambos tornaram-se prósperos e ricos. Mas continuaram sempre bons amigos. O oleiro mostrava-se arrebatado ao ouvir os versos do poeta. Encantava-se o poeta com os vasos admiráveis do oleiro.
Uassalã!

O Tapete de Nasir-Edin

Todas as manhãs, depois da prece habitual, o sultão Nasir-Eddin Mahmud II, o poderoso senhor do Hindustão, deixava o seu riquíssimo palácio de El-Abrage e ia, acompanhado unicamente por seu vizir, o fiel Omar Midian, passear despreocupadamente pelos arredores da famosa cidade de Ghazna.
Um dia, ao passar pelos suques dos mercadores, avistou o invicto soberano, em um dos bazares, riquíssimo tapete persa de cor verde-escura, no qual se liam, bordados com letras de ouro, harmoniosos versos e pensamentos famosos de sábios e filósofos do Islã.
- Belo tapete! - exclamou o sultão. - Vou comprá-lo para adornar o pavilhão de minha esposa Fátima.
E ordenou ao vizir Omar indagasse no mesmo instante, do mercador que ali expunha as suas quinquilharias, o preço da ambicionada alcatifa.
O vizir dirigiu-se a um velho de barbas brancas que, sentado indolentemente junto à porta, as pernas cruzadas à maneira oriental, fumava descuidado em um grande narguilé de prata uma mistura aromática de fumo e haxixe (1).
Ao avistar o digno ministro do rei o mercador levantou-se e saudou respeitosamente o nobre muçulmano:
- Marhaba ia akhal-arab! (Bem-vindo sede, ó Irmão dos Árabes!). Que desejais de mim, senhor? - Que objeto teve a fortuna de agradar aos vossos olhos bondosos?
- Meu bom velho - respondeu o vizir, - desejo apenas saber, por ordem do nosso glorioso sultão, o preço desse belo tapete que traz no centro, em caracteres dourados, um verso de Motanabbi, o grande poeta!
- Esse tapete, ó judicioso vizir (que Allah vos cubra de incalculáveis benefícios!) pouco valia ontem! Seu preço não excedia de cem dinares! Hoje, porém, não posso vendê-lo senão por duzentos dinares! (2)
- Por Allah, ó mercador! - exclamou o vizir. - Não é honesta tão exagerada elevação no preço. Por que motivo um simples tapete que ontem custava cem, hoje só pode ser vendido pelo dobro?
- Senhor! - redargüiu o velho mercador, com brandura e naturalidade. - Este tapete era um utensílio vulgar como muitos que as caravanas trazem de Bagdá e de Basra! Hoje, porém, quis Allah (seja o Seu nome exaltado!) que ele atraísse a preciosa atenção do nosso poderoso sultão Nasir-Eddin Mahmud II, senhor do Hindustão, conquistador de Ghazna e vencedor dos mongóis! Foi unicamente por este motivo que o seu preço cresceu repentinamente!
Omar Midian, o vizir, voltou a transmitir ao sultão a curiosa resposta do velho que mercadejava à porta do bazar.
- Ualá! Pela terceira sombra do Profeta! - bradou o rei. – Parece-me que esse mercador não é honesto! É audacioso, explorador! Duplicou o preço do tapete ao perceber que eu desejava adquiri-lo!
E sem mais hesitar o califa apeou do garboso alazão que montava e dirigiu-se ao ancião persa.
O mercador, ao ver diante de si o sultão Mahmud, inclinou-se e humilde beijou a terra entre as mãos. (3)
- Vanabi! (4) Não te parece, ó insensato - declarou o monarca - que não é curial nem honesto vender-se por duzentos um objeto que vale apenas cem?!
E acrescentou, dando à voz usualmente branda uma inflexão de invulgar energia:
- Não ignoras, por certo, ó muçulmano, que tenho a força e o poder em minhas mãos. Se eu quisesse, por um simples gesto meu, a tua barraca seria destruída, tua mercadoria queimada e tu arrastado impiedosamente pelas ruas de Ghazna. Pagarias com a vida a tua insaciável cobiça e o teu louco atrevimento! Não quero, porém, abusar da força que, pela vontade do Altíssimo, o Destino me depositou nas mãos! Vamos, medita um instante e dize-me agora, quanto custa esse tapete prateado que tem o verso de Motanabbi?
O velho mercador, depois de inclinar-se mais uma vez humildemente diante do sultão, respondeu sem tergiversar:
- Devo dizer, ó rei magnânimo (que Allah prolongue por muitos anos a vossa preciosa existência!), que esse tapete custava há pouco duzentos dinares, mas agora não posso vendê-lo por menos de quatrocentos!
E como o sultão fitasse nele os seus olhos negros desmesuradamente abertos pelo espanto, o ancião acrescentou:
- Este tapete é agora preciosíssimo! Por causa dele o nosso glorioso sultão Mahmud II, o rei generoso e justo, esteve prestes a praticar uma grande iniqüidade, uma clamorosa injustiça, chegando mesmo a ameaçar de morte um pobre mercador de Ghazna.
Riu o sultão ao ouvir a inesperada resposta do velho mercador, que ensinava uma sabia e profunda lição, e pagou, não quatrocentos, mas oitocentos dinares.
O grande e generoso monarca compreendeu certamente que, além do belo tapete, ele recebera do velho mercador uma sábia e profunda lição de moral.
Aqueles que praticam a injustiça contra os fracos - diz o Livro Sagrado, na sua eterna sabedoria – escudando-se na força e na tirania, não merecem nem a misericórdia, nem o perdão de Deus!
E na pedra sob a qual ainda hoje repousa o corpo de Mahmud II está gravado em árabe:
 
“Al-Adl Assas El-Mulk” - verdade que os reis e poderosos não devem nunca esquecer:
 
“A Justiça é o alicerce do Governo”.
          
 
(1) Haxixe - substância narcotizante preparada com folhas secas e hastes tenras de cânhamo. Os árabes dados ao uso da embriaguez fumam ou comem esse entorpecente. O haxixe embebeda como o ópio e o seu uso conduz sempre à imbecilidade e à loucura. 
(2) Dinar - moeda persa. 
(3) Beijar a terra entre as mãos é a maior demonstração de humildade. A pessoa ajoelha-se diante do monarca, coloca separadamente as palmas das mãos no chão e abaixa a cabeça até a testa tocar o solo. 
(4) Vanabi! - exclamação de espanto. Corresponde mais ou menos à expressão: "Com mil demônios!"

O Que Faz o Medo

Num país em guerra havia um rei que causava espanto. Sempre que fazia prisioneiros, não os matava: levava-os a uma sala onde havia um grupo de arqueiros de um lado e uma imensa porta de ferro do outro, sobre a qual viam-se gravadas figuras de caveiras cobertas por sangue.
Nesta sala ele os fazia enfileirar-se em círculo e dizia-lhes, então:
- Vocês podem escolher entre morrerem flechados por meus arqueiros ou passarem por aquela porta e por mim serem lá trancados.
Todos escolhiam serem mortos pelos arqueiros.
Ao terminar a guerra, um soldado que por muito tempo servira ao rei dirigiu-se ao soberano:
- Senhor, posso lhe fazer uma pergunta?
- Diga, soldado.
- O que havia por detrás da assustadora porta?
- Vá e veja você mesmo.
O soldado, então, abre vagarosamente a porta e, à medida que o faz, raios de sol vão adentrando e clareando o ambiente...
E, finalmente, ele descobre surpreso, que... a porta se abria sobre um caminho que conduzia à LIBERDADE!!!
O soldado, admirado, apenas olha seu rei, que diz:
- Eu dava a eles a escolha, mas preferiram morrer a arriscar-se a abrir esta porta.

***
 
Quantas portas deixamos de abrir pelo medo de arriscar?
Quantas vezes perdemos a liberdade e morremos por dentro, apenas por sentirmos medo de abrir a porta de nossos sonhos?
Pense nisso... sem medo de abrir novas portas!!!

Que é um amigo?

Um professor perguntou, certa vez, a um de seus alunos qual era o significado da palavra amigo.
O menino não soube, de pronto, responder.
Ficou alguns momentos em silêncio e, por fim, repetiu separando devagar as sílabas:
- A-mi-go!
Insistiu, porém, o professor:
- Vamos! Responda-me. Que significa a palavra amigo?
Ao fim de dois ou três minutos o jovem respondeu:
- Amigo, a meu ver, é uma pessoa que nos conhece perfeitamente, sabe da nossa vida e, apesar de tudo, ainda nos quer muito bem!
- Bravos! - exclamou o professor. - Eis uma resposta que me parece simples e perfeita! Um dos tesouros mais preciosos na vida é a boa amizade.
A amizade recobra as alegrias e reparte as penas em duas metades. A amizade é um raio de sol que ilumina a vida. Não há rosto por mais feio, nem espírito por mais desgraçado que um relâmpago da verdadeira amizade não possa tornar encantador. A amizade é um ser raro; unicamente são capazes de senti-la aqueles que são capazes de inspirá-la.
A boa amizade, para os ricos, serve de glória; para os pobres, de renda; para os desterrados, de pátria; para os fracos, de esforço; para os enfermos, de medicina; e até para os mortos, de vida.
Jesus Cristo, meu filho, conhece a nossa vida. Sabe de nossos erros e fraquezas e nada disso impede que Ele nos queira muito bem e tenha por nós infinita amizade.
Aproximemo-nos de Jesus, o grande Amigo dos homens.
Ó Pai Celeste, autor e fonte de toda a verdade, mar insondável de toda a ciência, manda, rogamos-Te, o Teu Espírito aos nossos corações e ilumina a nossa inteligência com os raios da Tua graça celeste. Isto pedimos-Te, ó Pai misericordioso, por amor do Teu bendito Filho, nosso Salvador, Jesus Cristo. Amém.

A Beira do Abismo

Bem equilibrado em seus magníficos esquis, um moço desliza rapidamente por uma pista através da floresta nevada. No termo da ladeira abre-se um barranco profundo. O jovem desliza com a rapidez da flecha; mas, a alguns metros do barranco, pára de súbito com movimento lento e firme. Ei-lo de pé, à beira do precipício, imóvel, como uma coluna de granito.
- Bravo! Magnífico! Onde aprendeste essa tão grande precisão? - exclamaram os companheiros.
- Não foi aqui que comecei, é certo - respondeu o hábil patinador. - Primeiro ensaiei, e mais de cem vezes parei em ladeiras menos perigosas.
Agora sei travar os meus esquis à beira de qualquer abismo!
O caminho da vida, meu amigo, é também uma pista, com muitos barrancos, e hiatos profundos. E os que não ensaiam cem vezes deter-se na ladeira, resistindo bravamente à tempestade das paixões, acabam por cair no abismo e perder-se nele sem recurso. Exercitar a vontade é manter, constantemente, o espírito em estado de luta contra a autoridade avassaladora do corpo. A alma de quem cede sem resistência ao menor instinto, carecerá de firmeza, e uma confusão terrível lhe envolverá os pensamentos...
Tal verdade transluz na palavra do Senhor: "O reino dos céus deve ser conquistado, e só os violentos podem arrebatá-lo das nossas mãos".
A primeira condição dum caráter firme é lutar contra si mesmo e fazer reinar a ordem na floresta virgem das forças que o instinto, por vezes, torna desregradas.
 

O Professor e o Príncipe

Conta-se que o Imperador Teodósio, indo um dia assistir à lição que o ilustre Arsênio dava a seu filho Arcádio, herdeiro da coroa, estranhou muito achar o mestre de pé, e o jovem príncipe sentado, e determinou que a partir daquele dia o mestre falasse da cadeira, ouvindo-o o futuro rei, reverentemente de pé e de cabeça descoberta.
Assim inculcou aquele egrégio monarca a seu filho a grande lei do respeito, sem a qual toda educação se torna impossível. E se tanta reverência se deve aos mestres, quanto maior não é a devida aos pais? Não é só respeito, não é só mistura de temor e de amor; é mais que isso: uma profunda veneração, que lhe devemos, uma espécie de culto. E por isso o respeitoso amor dos filhos se chama também piedade.
Nunca devem, portanto, os filhos tomar diante dos pais posturas inconvenientes: fumar, dar risadas descompostas, chasquear deles ou tratá-los com demasiada familiaridade.
"Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá" - diz Deus no quarto mandamento do Decálogo (Êxodo 20:12).
“Filho meu, não te esqueças da minha lei, e guarda em teu coração os meus mandamentos, porque estes te darão dilatada vida, anos ditosos e paz” (Provérbios, capítulo 3).
Ouvi, filhos os conselhos de vosso pai e segui-os de tal sorte que sejais salvos. O que honra seus pais achará alegria nos filhos, que também o honrarão do mesmo modo e será ouvido no dia da sua oração.
Que magníficas promessas! A nenhum dos outros mandamentos conferiu Deus sanção de prêmio. A este, porém, ajuntou o de uma dilatada e feliz vida como incentivo de sua observância. Ditosos, mil vezes ditosos os filhos que honram seus pais, que os honram tributando-lhes obediência, respeito, amor e serviços!

Vingança

Numa montanha do Egito, junto ao Mar Vermelho, viviam vários anacoretas sob a direção de Sison, homem bom e virtuoso.
Certa vez, um dos anacoretas, tendo tido séria divergência com outro, sentiu-se ofendido e foi procurar Sison a quem confessou estar resolvido a vingar-se de seu desafeto.
Sison tudo fez para demover o exaltado monge da resolução que havia tomado e procurou convencê-lo de que devia perdoar o ofensor. Vendo, afinal, que os seus conselhos eram infrutíferos, disse:
- Ao menos, meu irmão, façamos juntos uma prece antes de executardes os vossos desígnios vingativos.
Ajoelharam-se os dois diante do crucifixo e Sison iniciou a sua prece com as seguintes palavras:
- Não é mais necessário, meu Deus, para nós o amparo da Vossa assistência e da Vossa proteção, pois este irmão assegura que podemos e devemos vingar-nos por nossas próprias mãos!
Sensibilizado por essas profundas palavras, o anacoreta atirou-se aos pés de Sison e prometeu abjurar todo sentimento de animosidade e vingança. Assim procedem os que confiam em Deus.
Procura confiar em Deus, meu amigo! Procura estar com Jesus. Estar sem Jesus é insuportável inferno; estar com Jesus, é delicioso paraíso. Se Jesus estiver contigo, nenhum inimigo te poderá ofender. Quem acha Jesus, acha um bom tesouro; ou antes, um bem sobre todo o bem. E quem perde Jesus perde muito e muito, é mais do que se perdesse o mundo todo.
É paupérrimo o que vive sem Jesus, é riquíssimo o que está bem com Jesus.

O Cavaleiro Fiel

Indo certa vez orar, um frade que se sentia preguiçoso, árido e sem devoção perguntou a Frei Egídio:
- Pai, de que remédio usarei para ir à oração de boa-vontade e com mais desejo e com maior fervor?
E foi assim que Frei Egídio lhe respondeu:
- Um rei tinha dois servos. Um dispunha de armas de combate, o outro, não. Queriam ambos entrar na batalha e lutar contra os inimigos da realeza. O que estava armado participou da refrega e houve-se valentemente, mas o que tinha as mãos vazias falou ao soberano:
- Senhor meu, bem vês que estou nu e inerme. Por teu amor, porém, irei voluntariamente alinhar-me entre os teus guerreiros e combater mesmo assim desarmado como estou.
Vendo o bom rei a dedicação desse fiel servidor, chamou os seus ministros e disse-lhes:
- Ide com este meu servo. Dai-lhe a mais resistente cota de malha, a espada de aço fino e a rígida manopla, a fim de que com segurança possa ele entrar no aceso da peleja, e marcai-lhe as armas com o meu selo real, para que o hajam de reconhecer como meu cavaleiro.
- O mesmo sucede - concluiu frei Egídio - a quem vai orar. Quando julga encontrar-se nu, indevoto, preguiçoso, seco de alma, e se esforça pelo amor do Senhor para entrar na batalha da oração, o nosso benigno Rei e Senhor, vendo a ânsia do seu cavaleiro, dá-lhe, pelas mãos dos anjos seus ministros, a devoção, o fervor e a boa-vontade, armas com que vencemos a tentação e oprimimos todas as angústias que dilaceram o coração do descrente, do fraco, do vacilante.

O Anel de Augusto

Costumava Augusto trazer um anel em que fizera esculpir um caranguejo que prendia entre seus rígidos ferrões uma frágil borboleta.
Como quer que alguém certa vez o interrogasse acerca de tão estranha figura, respondeu:
- A borboleta representa a precipitação, o arrojo, a pressa; atira-se ao perigo sem lhe prever as conseqüências. O caranguejo, ao contrário, tardio e retrógrado no andar, significa prudência e segurança. Lembra-me pois esta figura que devemos evitar as decisões precipitadas que sempre nos conduzem à desordem e ao erro.
É de grande sabedoria não ser precipitado nas ações, nem aferrado ao próprio parecer.
A essa sabedoria também pertence não crer em todas as palavras dos homens, nem encher os ouvidos alheios do que se ouve ou vê.
Toma conselhos com o homem sábio e consciencioso e, de preferência, procura ser instruído por alguém melhor que tu.
A vida virtuosa faz o homem sábio, segundo Deus, provado em muitas coisas.
Quanto mais humilde e submisso a Deus for alguém, tanto mais prudente será.
São Francisco de Sales não era visto em caso algum tomar atitude precipitada ou impaciente, e como em certa ocasião alguém lhe perguntasse o motivo, respondeu: Perguntais-me como tenho podido, vendo todos se apressarem, não me apressar também, nem pôr mãos à obra. Que quereis que vos responda? Não vim a este mundo para trazer perturbações; não se encontram aí tantos embaraços sem que seja preciso que os aumente pela minha pressa?
Devemos, contudo, evitar uma lentidão excessiva, porque todos os extremos são defeitos. Sede tranqüilamente ativos, e ativamente tranqüilos.

A Pedra

Um pobre foi esmolar à casa de um rico. Este nada lhe deu.
- Põe-te fora daqui! - disse-lhe.
Mas o pobre não se moveu.
Então o rico enfuriou-se, e deu-lhe uma pedrada.
O pobre apanhou a pedra, apertou-a contra o peito e disse:
- Vou guardá-la até que, por minha vez, te possa apedrejar.
Passou-se o tempo.
O rico incidiu em má-ação, e, despojado de tudo quanto tinha, foi levado ao cárcere.
Vendo-o preso e desprezado, o pobre acercou-se dele, puxou da pedra que sempre trouxera consigo junto do peito, e fez o gesto de atirar-lha: mas, refletindo, deixou-a cair, e disse:
- Foi inútil conservar durante tanto tempo esta pedra. Quando ele era rico e poderoso, eu o temia; agora, faz-me pena e compaixão.
Felizes aqueles que, seguindo os exemplos de Jesus, procuram perdoar e esquecer as ofensas recebidas! Não é perfeitamente bom quem não sabe ser bom para com os maus.
Pai todo poderoso, entra em nossos corações, e enche-nos do teu amor, de modo que, rejeitando todos os maus desejos, apeguemo-nos a Ti, o nosso único bem. Por amor das Tuas misericórdias, Senhor Deus nosso, revela-te a nós assim como Tu és. Dize às nossas almas: Eu sou a tua salvação. Fala de tal modo que ouçamos. À Tua vista estão os nossos corações: abre os nossos ouvidos; faze-nos atender à Tua voz, e apegar-nos a Ti. Não escondas de nós a Tua face, ó Senhor, rogamos-Te.

A Voz de Deus

  Duas jovens irmãs saíram certa manhã, a passeio. Seguiram a mesma estrada e caminharam juntas. De volta foram interrogadas pelo pai a respeito do que haviam visto durante a excursão.
- Nada vi - respondeu a primeira, surpreendida com a pergunta.
- Não tenho palavras para exprimir tudo o que vi e ouvi - disse a segunda. - Encontrei, no caminho, regatos rumorejantes, lindas borboletas, flores admiráveis, pássaros pipilando, folhas a farfalhar agitadas pelas brisas amenas, e mil outras belezas indescritíveis.
Que diferença observamos na diversidade com que essas duas irmãs, igualmente capazes de ver e de ouvir, encaravam as belezas naturais! A alma de uma era emocionada pelo belo, enquanto que a da outra se conservava indiferente às maravilhas da natureza.
Ouvi a palavra de Deus e a vossa alma viverá!
Estais, acaso, surdos à voz de Deus e às belezas espirituais que se expressam em milhares de vozes? Fitais as estrelas, no firmamento, sem que vos lembrem o Criador? Ouvis o chilrear das aves, sem um pensamento de gratidão ao Senhor que as fez? Sentis um impulso de adoração, quando acompanhais o cântico dos hinos do Seu santuário? As palavras do prega-dor fazem surgir em vosso espírito estranhos anseios por uma vida mais nobre? Sentis a presença de Deus quando Ele segreda paz ao vosso coração, nas horas silenciosas?
Deus está falando através de toda a Sua criação, mas somente à alma humana é dado captar-lhe as mensagens. Um pensador notável afirmava: - "A alma tem sempre a sua hora de silêncio completo. Deus nos fala cada noite, incessantemente. Quando os sons do mundo morrem ou se abafam dentro d’alma, então podemos ouvir os conselhos de Deus. Ele nos fala de contínuo e só não podemos ouvi-lo, quando nos ensurdece o burburinho, as fadigas e as distrações materiais do mundo".

A Força do Brandura

  Certa vez o Sol e o mau vento do Norte entraram a discutir para saber qual dos dois era mais forte.
Muito tempo altercaram, até que decidiram experimentar as forças num viajante que, nesse momento, cavalgava pela estrada afora.
- Olha, disse o vento, vou lançar-me sobre ele e, num instante, arranco-lhe o casacão.
Eis o que ocorreu. O vento sopra com toda a violência. Quanto mais se esforça, porém, mais se embuça o viajante resmungando contra a nortada e andando para adiante.
O vento enfureceu-se e cobriu de neve o pobre homem. Amaldiçoando aquele vendaval, o cavaleiro enfiou os braços nas mangas da véstia, apertou-a contra o peito e afivelou-a na cintura.
Então, o Sol, vendo o desastre do seu rival, sorriu, apareceu atrás das nuvens, derramou seus raios, secou a terra e, ao mesmo tempo, aqueceu e enxugou o pobre viajante, já quase gelado. Este, tendo sentido o calor dos raios solares animou-se, abençoou o Sol e despiu o casaco, dobrando-o e atando-o à garupa da sela.
- Vê - disse então o Sol ao vento maldoso, - vê agora que com brandura e bondade se pode fazer mais do que com violência e maldade.
Quem, na verdade, resistirá à força imensa da brandura e da bondade?
A força, o saber, a beleza não fazem, sem a bondade, conquistas duráveis no domínio das almas.
O homem inclina-se perante o talento, mas só se ajoelha diante da bondade.
A bondade proporciona a alegria mais fecunda da vida.
Sofreis a injustiça de um mau? Perdoai-lhe, a fim de que não haja dois maus.
Não serás julgado pelo muito que souberes, mas pelo bem que fizeres.
Se amares, serás amado. Se servires, serás servido. Se temeres, serás temido. Se te portares bem para com os outros, convém que os outros se comportem bem para contigo. Mas, bem-aventurado é aquele que verdadeiramente ama e não deseja ser amado. Bem-aventurado é o que serve e não pretende ser servido.
 

Palavra de um Sábio

Tendo Chevreuil, célebre químico, pronunciado durante uma aula o nome de Deus, foi interpelado no momento por um de seus discípulos.
- Mestre - perguntou o jovem, petulante e audacioso - acreditas em Deus? Já o viste? O sábio respondeu:
- Sim, meu caro amigo, já O vi, não em si mesmo, que Ele é puro espírito, mas em Suas obras. Vi Sua onipotência na grandeza e no rápido movimento dos astros; vi Sua inteligência e Sua infinita sabedoria na ordem do Universo; vi a Sua bondade infinita nos admiráveis benefícios que Ele me dispensou.
- E tu, meu jovem, não conseguiste ver nada disso? Não vês o pintor divino no estupendo quadro da criação? Não vês o mecânico celeste nesta bela máquina do mundo? Não vês o artífice em sua obra?
- Moço, lamento a tua ignorância: dela unicamente resulta a cegueira em que vives! Procura aprender para sempre a sublime verdade!
Deus é espírito. Por isso O não podemos perceber pelos nossos sentidos, porque não tem corpo, nem figura, nem cor, nem algum dos atributos que se reconhecem nas coisas materiais. Criador de todas as coisas, Deus não foi criado por nenhum outro ser. Não teve, pois, princípio, nem há de ter fim. É eterno, isto é, existiu sempre e sempre há de existir.
Superior a todos os entes criados por Ele, as Suas perfeições são infinitas. É onipotente, isto é, pode tudo; é imutável, isto é, não pode ter mudança nos Seus atributos; é criador de todas as coisas, e nenhuma das coisas criadas tem o poder de criar outros entes Seus subordinados; é infinitamente bom; é senhor de tudo, tudo governa no mundo; a Sua misericordiosa providencia a tudo acode e tudo regula segundo as leis da Sua eterna e infinita sabedoria.
Pretender encerrar Deus nos limites de nossa compreensão é o mesmo que pretender encerrar todo o oceano dentro de um pequenino dedal.
Somente Deus - ensinava Santo Agostinho - sacia os nossos desejos, porque Ele é a imensidade. Sempre os saciará, porque Ele é a eternidade.

A Esmola e o Rochedo

Havia outrora, em país situado para além do Ganges, um rei muito rico e orgulhoso.
Todos os dias deixava o monarca o grande palácio em que vivia e, fazendo-se acompanhar de uma aparatosa guarda de cavaleiros, percorria as ruas da cidade distribuindo esmolas, atirando moedas de ouro aos pobres e necessitados.
- Como é caridoso o rei! - diziam. - Quanta bondade! Que coração magnânimo?
E não se apontava um só habitante capaz de negar as qualidades altruísticas do dadivoso soberano.
Um dia surgiu na cidade um velho sacerdote que andava pelo mundo em peregrinação, ensinando aos homens as grandes verdades do livro de Deus.
Ao notar a ostentação descabida com que o rei dava esmolas e a maneira espetaculosa como exercia a caridade, o bom ancião observou:
- A caridade no coração desse rei vaidoso é como a areia atirada sobre o rochedo nu!
E, como os seus numerosos ouvintes não tivessem percebido o sentido exato de suas palavras, ele explicou:
- Aquele que dá esmolas por ostentação é semelhante ao rochedo coberto de areia. Vem a chuva, lava a pedra lisa, e não se encontra depois senão a rocha dura e inabalável. Assim, o coração desse rei é duro como o rochedo; há apenas, sobre ele, essa poeira de esmola feita de vaidade e ostentação!
Bem dizia o poeta:
 
“Se queres que a caridade avulte
e se engrandeça aos olhos do Senhor,
leva na mão benfazeja
socorro a quem quer que seja, conforto seja a quem for.
Mas dize à mão que se oculte para que o mundo a não veja...”

Perdoados

Em uma velha cidade da Escócia vivia um médico muito estimado pela bondade com que atendia as pessoas mais desprotegidas da sorte.
Quando esse médico morreu foram encontradas, entre seus papéis, muitas contas que se referiam a serviços por ele prestados. Essas contas continham à margem a seguinte declaração feita por ele próprio: "Perdoada. Esse cliente é muito pobre para pagar".
A viúva desse médico, que não tinha o espírito inclinado à piedade, tentou receber judicialmente todas as contas deixadas por seu marido.
O juiz ao receber a ordem de cobrança interrogou-a, apresentando-lhe um dos títulos:
- A declaração que vejo na margem desta conta foi escrita por seu esposo?
- Decerto que sim - respondeu.
- Escuta mulher - falou-lhe o juiz, - se isso é verdade, não há tribunal no mundo que possa exigir o pagamento dessas contas já perdoadas pela única pessoa que podia fazê-lo!
Assim também quando Jesus Cristo, Nosso Senhor, nos diz: "Teus pecados estão perdoados", ficamos para sempre livres de nossas dívidas para com Deus!
E a todo momento devemos implorar o perdão de Deus:
Perdoai-nos, ó Deus! Perdoai os nossos pecados, por causa do Vosso santo nome; salvai as nossas almas, que remistes com o Vosso precioso sangue.
Eis que nos entregamos à Vossa misericórdia e nos resignamos ao Vosso beneplácito.
Tratai-nos segundo a Vossa bondade, e não segundo a nossa malícia e iniqüidade.
Contam, que Carlyle, o célebre historiador escocês, quando ainda era muito moço, teve uma questão muito grave com um de seus companheiros. E um dia, sentindo-se insultado, declarou que ia imediatamente exigir satisfações daquele que o havia ofendido.
Um velho professor, informado do caso, aproximou-se de Carlyle e disse-lhe:
- Meu caro amigo. Tenho longa experiência da vida e conheço as conseqüências tristes dos atos impetuosos. Um insulto é como a lama que cai na nossa blusa. A lama pode ser retirada facilmente, com uma simples escova, quando já está seca. Deixe, pois, secar primeiro. Não esteja com pressa; espere até que o seu espírito se acalme e verá como tudo será facilmente resolvido.
Carlyle aceitou o conselho do professor e com tão feliz resultado que, no dia seguinte, o colega que o insultara lhe veio pedir desculpas.
Dada a grande diversidade de temperamentos e caracteres não nos é possível viver em paz com o próximo sem refrear a ira e insistir na prática da mansidão. "Carregai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo". A caridade para com o próximo supõe o exercício da mansidão.
Em maior grau precisam desta virtude aqueles que têm o ofício de educar ou dirigir outros. São palavras de Jesus, Nosso Senhor:
 
Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a terra.
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados os que padecem perseguições por parte da justiça; porque deles é o reino dos céus.

Mão Salvadoras

Certa senhora, dotada, embora, de grande formosura, tinha um defeito. Possuía as mãos enrugadas, quase disformes. Durante muito tempo sua filha, menina viva e sagaz, com a delicada intuição da infância, não tocara no assunto. Por fim a curiosidade pôde mais do que ela, levando-a a esta confissão:
- "Minha mãe, eu gosto muito do seu lindo rosto, e gosto muito de seus lindos olhos, e da sua testa e do seu pescoço, mas não posso gostar das suas mãos. São tão feias!”.
Então a carinhosa mãe contou-lhe o seguinte:
- "Uma noite, quando você era ainda muito pequena e estava dormindo em seu bercinho de rendas e fitas, ouviu-se por toda a casa, o alarme de incêndio. Subi precipitadamente as escadas e encontrei em chamas o quarto onde você sonhava com os anjinhos. Quis Deus levar-me até ao seu berço e eu a salvei. Desde então as minhas mãos ficaram assim”.
A adorável criança quedou silenciosa por alguns instantes. Depois disse:
- Ó mamãezinha, eu ainda gosto do seu rosto, de sua testa e do seu pescoço, e dos seus olhos e dos seus cabelos mas agora gosto das suas mãos mais do que tudo.
Reparai agora meus amigos nas mãos divinas de Jesus - mãos remidoras e compassivas porque foram no infamante lenho da maldita cruz traspassadas impiedosamente por causa dos pecados de todos nós - distanciados do redil de Deus...

Apanhando Macacos

Em certas regiões africanas usam os indígenas de um curioso artifício para apanhar macacos.
Amarram solidamente a uma árvore um saco de couro cheio de arroz, comida predileta dos símios. A boca desse saco, muito estreita, é do tamanho justo para só deixar passar a mão do animal; e este, se a fecha, prendendo entre os dedos um punhado de arroz, não pode mais retirá-la...
Sem desconfiar da armadilha, o macaco voraz mete a mão no saco e agarra, com força, um punhado de seu manjar favorito. Ao verificar que a mão está presa, faz caretas e agita-se, uiva, debate-se, retorce o corpo, em movimentos cada vez mais violentos. Mas todos os trejeitos e uivos são inúteis. O indígena aproxima-se, e com seu laço de couro, captura-o...
Como é tolo esse pobre macaco! Bastaria apenas, num gesto tão simples, abrir a mão e largar o arroz para recuperar a liberdade! Mas ele prefere o cativeiro e a morte, a renunciar à presa!
Toma cuidado, meu filho, que o desregrado amor ao dinheiro não te cative do mesmo modo e não te atire à prisão das mais negras paixões!
Não se pode viver sem dinheiro. De uma coisa porém não nos devemos esquecer: é de jamais sermos escravos do dinheiro. O dinheiro é que deve ser nosso servo. É ele mero instrumento, um meio apenas, não se devendo fazer dele um fim.
Assim, se não o deixares reinar como senhor em tua alma, o dinheiro pode ser para ti um bom servo.
Aumentará os teus valores espirituais, dar-te-á o direito de primogênito dos filhos de Deus.
O amor desordenado às riquezas é o que se chama avareza. É avarento o que vive exclusivamente preocupado em amealhar mais dinheiro e aumentar o seu pecúlio. A fortuna é para o avarento um fim, e não meio de prover às necessidades da existência. É tal a sua paixão pelo dinheiro que se torna miserável, não só para os outros como para si próprio.
O avaro não dá esmolas; nega o menor auxílio aos necessitados; priva-se, ele próprio, de tudo. Passa a vida a pão duro. Quando precisa gastar, sente como se lhe arrancassem um naco da alma. É tipo ignóbil; nocivo à família, inútil à sociedade e prejudicial ao país. A economia é coisa inteiramente diversa. Consiste em regular os gastos pelos rendimentos, de sorte que aqueles não excedam a estes. Não é vício. É, antes, virtude preciosa, estímulo do trabalho e mãe da prosperidade.

O Príncipe Louco e o Mau Rei

No país de Astrabad vivia outrora um rei perverso e mau chamado Balchuf.
Não tendo filhos, era seu herdeiro um sobrinho - o príncipe Kabadiã - moço desajuizado e turbulento que vivia a cometer toda sorte de loucuras e estroinices.
Raro era o dia em que o futuro rei não praticava uma proeza qualquer.
O rei, longe de procurar corrigir-lhe a índole arrebatada e travessa distraía-se com suas extravagâncias e ria-se quando ouvia contar alguma nova tropelia daquele a quem já chamavam o "Príncipe Louco".
O povo de Astrabad antevia bem triste os dias que o aguardavam. Entregue a um monarca impiedoso e sanguinário o pais entraria fatalmente em completa decadência. Os estrangeiros já fugiam de Astrabad com receio das perseguições, e o comércio arrastava-se onerado e sem ânimo, coberto de impostos exorbitantes.
Um grupo de patriotas, compreendendo que aquele estado de coisas levaria todos à ruína, resolveu conspirar contra o rei, proclamar a República e entregar ao mais digno a direção do Estado.
Houve, porém entre os oposicionistas um miserável delator que se apressou em levar ao conhecimento do rei o plano deliberado pelos conspiradores.
Enfureceu-se o soberano ao ter notícias de que alguns ricos súditos pretendiam subverter a ordem legal do país e resolveu castigar implacavelmente os chefes daquele movimento republicano. Mandou degolar alguns, eliminando os mais influentes, desterrou outros, prendeu os suspeitos e confiscou os bens de todos os adeptos da revolução.
Esta vitória não lhe restituiu, porém a tranqüilidade que perdera. O fantasma da revolta continuava a povoar-lhe a mente, como um sonho mau.
- Uma tentativa destas - pensava - deixa terríveis germes nos corações dos descontentes e dos vencidos. Se eu não tomar uma providência enérgica, cedo terei de dominar outra rebelião. E encontrarei, porventura, quem me avise a tempo?
Preocupado com tais pensamentos, resolveu Balchuf mostrar ao seu povo que ele não era tão ruim como os seus adversários faziam crer.
- Para isto - refletiu maldoso - vou afastar-me durante um ano do governo e deixar meu sobrinho no trono. Tais loucuras há de ele praticar, tão freqüentes serão os seus atos de tirania, que quando eu voltar o povo respirará menos oprimido e verá em mim um soberano ponderado e justo.
Ora, o rei Balchuf fora informado de que o Príncipe Louco dissera várias vezes a seus amigos e companheiros que quando subisse ao poder praticaria de início três façanhas espantosas: uma represa das águas do rio Gurgã, a construção de um castelo subterrâneo e a abolição do véu para as mulheres.
E, antegozando a dura lição que infligia ao país inteiro, esfregava as mãos de contente:
- O primeiro ato de meu tresloucado sobrinho levará o país às portas da miséria; o segundo à ruína completa e o terceiro à revolução religiosa e à guerra civil!
E resolvido a pôr em execução sem mais delongas o plano diabólico, o rei Balchuf assinou um decreto em virtude do qual seu sobrinho Kabadiã o substituiria no governo pelo espaço de um ano. Ele - o rei - iria, durante esse tempo, fazer uma visita ao seu velho amigo Iezide II, sultão do Hajar.
Foi com verdadeiro pavor que o povo de Astrabad recebeu a nova da viagem do rei e a conseqüente ocupação temporária do trono pelo Príncipe Louco.
Partiu o rei Balchuf resolvido a regressar dentro do prazo marcado. Preso, entretanto, por uma grave e prolongada enfermidade no longínquo país de Hajar, não pôde voltar senão quatro anos depois.
Chegado a Astrabad, depois de tão longa ausência, notou que os seus domínios haviam progredido extraordinariamente. Um vizir que, por ordem do governo, veio esperá-lo na fronteira disse-lhe sem mais preâmbulos:
- Penso que Vossa Majestade não deve tentar reassumir o trono, pois o povo poderia revoltar-se e massacrá-lo.
- Como assim? - exclamou o rei. - Será possível que meus súditos prefiram ser governados pelo Príncipe Louco a ter-me no trono?
- Peço humildemente perdão a Vossa Majestade  recalcitrou o vizir. Devo asseverar, porém, que Vossa Majestade está completamente equivocado. O príncipe Kabadiã está governando admiravelmente o país. Até hoje não havíamos encontrado um chefe de Estado de mais ampla visão e sabedoria!
- É incrível! - protestou o rei. - E a represa do rio Gurgã? E o palácio subterrâneo? E a célebre abolição do véu feminino? Não teria o príncipe praticado nenhuma dessas tão prometidas loucuras.
O vizir explicou, então, ao rei Balchuf que tudo isso e muito mais havia feito o príncipe. A represa do rio Gurgã fora de conseqüências magníficas, pois as águas espalharam-se pelas terras vizinhas, fertilizando-as e tornando-as bastante aperfeiçoadas à agricultura que logo se desenvolveu; o palácio subterrâneo, depois de construído, tornou-se grande atrativo, e milhares de forasteiros visitaram a capital unicamente para admirar essa nova maravilha, o que para o comércio de Astrabad fora manancial de grandes lucros e para o país fonte de gerais prosperidades. A abolição do véu feminino fora outra medida de alcance admirável. As raparigas passaram a andar com o rosto descoberto: abandonaram a ociosidade dos haréns e puderam trabalhar livremente não só nos bazares como nas pequenas indústrias. Uma vez condenado o véu, teve o príncipe ocasião de observar que suas jovens patrícia eram belíssimas e resolveu casar-se. Escolheu para esposa uma menina, formosa e inteligente, filha de um grande sábio. A nova princesa exerceu tão boa influência sobre o gênio de seu jovem esposo que o transformou radicalmente. Aconselhado pela fiel e dedicada companheira, o príncipe escolheu bons ministros, esforçados auxiliares e, bem guiado e melhor secundado, soube modificar bastante o seu gênio irrequieto e impulsivo. Até então não assinara uma única sentença de morte, nem mandara confiscar os bens de nenhum cidadão.
Ao ouvir tão assombrosas revelações, o rei Balchuf ficou pasmado e percebeu que havia perdido para sempre o direito ao trono; jamais poderia ele contar com o apoio de suas tropas ou com a antiga submissão de seu povo.
- Insensato fui eu - confessou ele ao vizir. - Insensato, pois não soube governar o meu povo como ele merecia! Insensato em escolher maus ministros e péssimos conselheiros! Louco era eu quando premiava os vis delatores e perseguia os bons patriotas!
- Agora é tarde para arrependimentos, ó rei - retorquiu com impaciência o vizir. - Volte Vossa Majestade para o país de Hajar e procure acabar lá sossegado os seus dias. Que o povo de minha terra não poderá suportá-lo mais!
E, tendo pronunciado tão ásperas palavras, o vizir afastou-se com a sua aparatosa comitiva deixando o infeliz rei abandonado na estrada.