sexta-feira, 26 de julho de 2013

Um Copo de Água Fria (Episódio da grande guerra)


Durante uma longa viagem em estrada de ferro, estava eu, há algum tempo, num dia de
extenuante calor, em companhia dum oficial de cavalaria, que tinha tomado parte em
alguns combates na grande guerra.
Contou-nos alguns episódios, mas nenhum me impressionou tanto como o que se segue:
-  Foi,  dia  ele,  no  dia  seguinte  ao  duma  vitória  custosamente  ganha  com  esforços  e
cansaço  extraordinários.  Tinham-me  encarregado  de  levar  uma  ordem  importante  à
retaguarda,  quando,  no  momento  de  partir,  o  meu  cavalo,  estafado,  recusou  marchar;
mancava  e  não  podia  mesmo  caminhar.  Sem  demora,  fui buscar  outro;  este  era  tão
bravo e manhoso, que alguns minutos se passaram antes que me tivesse sido possível
montá-lo e sujeitá-lo à obediência. Empinava, escoiceava e quando eu estava quase  a
vencê-lo, estacava ao menor obstáculo e continuava os seus pinotes.
Entretanto,  era  preciso  apressar-me;  a  mensagem  de  que  eu  era  portador  não  admitia
nenhuma demora, e a estrada, obstruída com tropas e materiais, dificultava ainda mais a
minha  viagem.  Era  meio-dia  e  estava  apenas  a  meio  caminho.  O  ar  estava  pesado  e
abafadiço; nuvens de pó secavam-me a garganta. Estava esfalfado o meu cantil estava
vazio, sentia-me a desfalecer. Numa volta do caminho descobri uma fonte abundante,
junto da qual alguns soldados descansavam e enchíamos seus cantis.
Desejava  descer  para  fazer  o  mesmo,  mas  o  cavalo,  como  que  pressentindo  a  minha
intenção,  deu  pinotes  tão  furiosos,  que  tive  de  renunciar  à  minha  tentativa,  para  não
excitar os risos grosseiros do acampamento.
Aborrecido  com  este  contratempo,  desatei  o  meu  cantil  e,  dirigindo-me  a  um  dos
soldados, o único que parecia não se rir do meu infortúnio, estendi-lho, pedindo-lhe que
mo enchesse.
Era de mau aspecto, de sobrecenho carregado; ainda  assim estava eu longe de esperar
resposta tão cruel:
- Encha-o você !
Diante destas palavras, a minha cólera não teve limites.
- Desgraçado ! - gritei-lhe; - tomara um dia o encontre a morrer de sede e a pedir um
copo de água fria, para eu ter também o prazer de lho recuar !
Em seguida, dei de esporas ao cavalo e parti numa corrida desenfreada, sem fazer caso
dos convites dos outros soldados, que me gritavam que voltasse.
Uma légua depois um rapazinho, compadecido, deu-me  água, a mim e ao meu cavalo.
Em troca dei-lhe um punhado de dinheiro, mas, comparando a prontidão que ele teve
em me servir com a conduta dos meus companheiros d'armas, senti como que uma onda
de ódio a revolver-se dentro de mim.
O  rosto  daquele  soldado  gravou-se-me  em  traços  indeléveis  na  imaginação;  e  jurei
procurá-lo - Deus me perdoe ! - até me poder vingar. Durante dois anos, nos campos de
batalha, entre os moribundos, continuei sem resultado esta busca ímpia. Enfim, chegou
o dia.
Em resultado de alguns ferimentos fui levado para um hospital de guerra. Não estando
ainda  em  estado  de  retomar  o  meu  serviço,  empregava o  tempo  a  cuidar  dos  que
estavam mais feridos do que eu.
Nunca  me  senti  tão  compadecido  para  com  os  pobres  soldados  como  no  meio  destas
cenas de dor e de sofrimento, das quais os campos de batalha não dão ideia nenhuma.
Tinha verdadeiro prazer em aliviar-lhes as dores e alegrá-los.
No meio destas novas ocupações, esqueci o meu "inimigo." Era assim que eu chamava
ainda aquele que me tinha recusado o copo d'água fria.
Depois  duma  grande  batalha,  muitos  feridos  vieram  para  o  nosso  hospital.  Todas  as
salas ficaram repletas; o calor era medonho, e os doentes sofriam cruelmente de sede e
da atmosfera abrasadora da sala. De todas as camas gritavam: Água ! Água ! Água !
Peguei num copo e num balde d'água gelada, e fui de fileira em fileira, distribuindo o
líquido precioso a todos os que o pediam. Só o cair da água no copo já lhes fazia brilhar
a alegria nos olhos abrasados pela febre.
Quando eu andava pelo meio das coxias entre as camas, um homem deitado do outro
lado da sala levantou-se de repente, gritando:
- Água ! Água ! pelo amor de Deus !
Fiquei horrorizado. Tudo o que me cercava desapareceu aos meus olhos e não via senão
a ele. Era o que me tinha recusado um copo de água fria !
Aproximei-me, mas não me reconheceu. Caiu exausto sobre o travesseiro, com o rosto
voltado  para  a  parede.  Então  senti  comprimir-se-me  a  alma,  ouvi  uma  voz  dentro  de
mim a dizer distintamente:
- Faze-lhe ouvir o barulho da água, passa e torna a passar diante dele, dá a todos os que
o cercam e não a ele. Vinga-te. !
Mas ao mesmo tempo ouvi o murmúrio doutra voz. Uns dizem que era a voz da minha
consciência;  outros  a  de  Deus,  e  outros  ainda  o  resultado  das  lições  de  minha  mãe.
Fosse qual fosse, esta voz dizia:
- Meu amigo, é hoje o dia propício e a hora de pagar o mal com o bem, de perdoar,
como Jesus te perdoou. Vai e dá de beber ao teu inimigo.
Um movimento involuntário me arrastou para a sua cama; amparei-lhe a cabeça com o
braço e aproximei o copo dos seus lábios febris.
Oh ! como bebeu ! nunca esquecerei sua expressão de alívio e o olhar que me lançou,
sem pronunciar palavra. Vi que estava profundamente comovido.
O  pobre  teve  de  sofrer  amputação  de  uma  perna  e  pedi  ao  médico  autorização  para
tomar sob os meus cuidados.
Tratava-o dia e noite. Durante muito tempo conservou o mesmo silêncio, até que um
dia, quando me afastava de sua cama, agarrou-me pelo paletó e, puxando-me para bem
junto de si, disse-me em voz baixa:
- Lembra-se você do dia em que me pediu de beber?
- Sim, camarada; mas o que lá vai, lá vai. Isso acabou.
- Para mim não, continuou; não sei o que tinha naquele dia; o capitão acabara de me
repreender;  tinha  febre,  estava  encolerizado.  Poucos  instantes  depois  fiquei
envergonhado com a minha conduta, mas era tarde demais. Há dois anos que o procuro
para lhe pedir perdão. Quando reconheci aqui, lembrei-me do que me tinha dito e tive
medo. Diga-me: Você me perdoa ?
Eu tinha-o procurado dois anos para me vingar; ele me procurou para se humilhar e me
pedir perdão. Qual dos dois tinha seguido melhor o espírito de Cristo? Certa confusão se
apoderou de mim.
-  Camarada,  disse-lhe  eu  depois  de  uma  pausa  -  você é  muito  melhor  que  eu;  não
falemos mais nisso!
Eu estava presente quando lhe fizeram a amputação. Já o amava como a um irmão. Ele
sabia  que  ia  morrer,  mas  antes  confiou-me  alguns  objetos  para  mandar  a  sua  irmã
juntamente com uma carta que me ditou. Perguntou-me se não haveria na Bíblia uma
passagem que tratasse dum copo de água.
- Peço a você, disse-lhe eu, que não torne a falar nisso. Mas ele continuou:
- Você não sabe, meu fiel amigo, o bem que fez em não me recusar o copo de água.
Naquela  noite  a  febre  do  doente  aumentou  e  por  vezes  parecia  delirar.  Contudo
percebia-se que a sua confiança em Jesus Cristo era completa. Tinha a certeza de estar
salvo. Assim o mostrava nas suas orações.
Pela madrugada, mexeu-se, acomodou a cabeça no travesseiro, e fechou os olhos para
os não abrir mais neste mundo. Tinha adormecido para só acordar na eternidade.
Ao vê-lo morrer assim tranqüilo e consolado, que grande prazer senti em ter-lhe dado de
beber,  pagando-lhe  assim  o  mal  com  o  bem!  Lembrei-me  então  destas  palavras  de
Jesus: "Todo o que der a beber a um daqueles pequeninos um copo de água fria, não
perderá a sua recompensa."

Salvamento Providencial no Mar


A  Sra.  Steinhauer,  de  Battle  Creek,  Estados  Unidos, conta  abaixo  o  interessante
episódio de uma viagem que fez em navio de vela da  Ilha Jamaica a Nova Orleans, em
companhia de seus pais. Eram estes missionários que, havendo trabalhado a ponto de
ficar  com  a  saúde  combalida,  se  viram  obrigados  a  transferir-se  para  um  clima  mais
fresco.  Resolveram,  pois,  dirigir-se  ao  ponto  acima referido.  Durante  a  viagem  um
vento  forte  havia  desviado  o  navio  para  longe  de  sua  rota,  seguindo-se  então  uma
calmaria  completa,  que  impossibilitava  todo  movimento  da  embarcação.  Estando  esta
aprovisionada apenas para poucos dias, tornou-se logo necessário distribuir o alimento
em rações, aos passageiros e à tripulação.
Diz a Sra. Steinhauer: "Quando os dias se prolongaram a ponto de se converterem em
semanas, nossos sofrimentos tornaram-se em extremo  tormentosos. Bem me lembro de
estar  a  roer  uma  luva  de  pelica  para  obter  dela  algumas  partículas  nutritivas.
Recebíamos meio biscoito e um pequeno copo d'água cada vinte e quatro horas - quota
demasiadamente pequena de alimento e ainda mais insuficiente de água, debaixo do Sol
abrasador da zona semitropical. ...
"Alguns passageiros tragavam a sua porção de água imediatamente ao recebe-la; outros
acariciavam-na  com  veemente  avidez,  como  se  receassem  que  alguém,  mais  forte  do
que eles, lhas arrebatasse. Por fim, devido à sede  prolongada, a língua se nos inchou a
ponto de mal podermos fechar a boca. Minha mãe achava que mergulhar faixas de pano
em  água  do  mar,  enrolando-as  em  seguida,  molhadas,  em  volta  do  pescoço,  lhe
proporcionava algum alívio. Era com efeito para enlouquecer o ver a água em volta de
nos sem podermos mitigar a sede.
"Ao cabo de quatro longas semanas decidiu-se que, afim  de fazer a parca porção de
víveres durar mais uns dias, um homem fosse atirado ao mar. A sorte devia ser lançada
à  noite,  mas  a  decisão  não  seria  manifesta  até  pouco  antes  de  serem  distribuídas  as
rações,  no  dia  seguinte,  na  esperança  de  que  viesse algum  salvamento  antes  de  se
proceder à execução dessa medida.
"Meu pai e um cavalheiro espanhol dormiram no convés, ao passo que minha mãe e eu,
sendo as únicas pessoas do sexo feminino, além da esposa do comandante e de mais três
senhoras de terceira classe, nos retiramos para os nossos beliches.
"Escusado é dizer que já durante todos os dias anteriores foram muitas as orações feitas,
mas minha mãe resolveu passar toda a noite em súplicas a Deus, o que, com efeito, fez.
Cedo de manhã, adormeceu exausta, sendo acordada pela voz de meu pai, que dizia:
"- Minha esposa, parece-nos que avistamos ao longe a vela de um navio.
"- Oh! exclamou minha mãe em tom abatido, este navio passará como os demais que
avistamos."
"Havíamos  sido  atormentados  pela  vista  de  muitos  navios  que,  quais  pontos  negros,
apareciam  no  horizonte  ocidental,  mas  conservaram-se  sempre  a  tão  grande  distância
que não nos foi possível chamá-los à fala, nem mesmo que eles vissem nosso sinal de
desespero.  Depois,  recordando-se  de  sua  ocupação  durante  a  noite,  ela  acrescentou,
arrependida: 'Não, Deus me perdoe! é Ele quem ouviu a minha oração; o navio virá em
nosso socorro.
"-  Não  estejas  demasiado  certa,  minha  esposa,  disse meu  pai,  ternamente;  pois,  não
quero que fiques desapontada. Naturalmente, se for a vontade de Deus, o navio virá em
nosso socorro.
"É  a  Sua  vontade,  replicou  confiadamente  minha  mãe. Estou  certa  de  que  a  salvação
está próxima.
"Vestimo-nos  o  mais  depressa  possível  e,  em  seguida,  subimos  as  escadas  para  o
convés.  Jamais  me  esquecerei  da  cena  que  se  desdobrou  ante  os  meus  olhos.  Ali,  ao
lado do navio de onde se avistava o objeto que esperávamos nos trouxesse o almejado
socorro, estavam reunidas todas as pessoas de bordo. Não se falava nenhuma palavra,
mas a simples vista não se podia discernir coisa alguma; em silêncio mortal o óculo de
alcance do navio passou de um para outro, a fim de todos olharem.
"Parece, de fato, um navio. Sim, agora estávamos certos de que a nossa esperança havia
tomado forma sólida. Mas viria o navio em direção ao sítio onde nos achávamos? ou vêlo-íamos desaparecer da vista como o navio dum sonho?
"Mas não; mais e mais o navio se aproximava de nós.Em breve o enxergávamos a olho
desarmado.  Sinais,  não  os  podíamos  fazer,  pois  estávamos  demasiados  fracos  e
extenuados. O navio, porém, ia chegando, não obstante, em linha reta. Finalmente nos
deram voz:
"- Navio, olá!
"Mas nenhum dos homens a bordo tinha força suficiente para responder.
"Apesar de não obter resposta, a embarcação continuava a aproximar-se até chegar bem
perto do nosso infeliz navio, quando se arreou um bote no qual tomaram lugar quatro
homens,  sendo  um  deles,  ao  que  parecia,  o  comandante.  A  suprema  ânsia  daquele
momento  acha-se-me  impressa  indelevelmente  na  memória,  embora  fosse  eu  naquele
tempo uma simples criança.
"O comandante foi o primeiro a abordar o nosso navio, e ao subir ao convés, vendo a
nossa miséria, tirou o chapéu e disse em voz solene:
"- Agora creio que há um Deus no Céu!
"Verificou-se  ser  o  navio  um  daqueles  rebocadores  que  levam  outros  navios  para  o
porto.  Por  lei  esses  rebocadores  estão  obrigados  a  não  se  afastar  senão  até  certa
distância do porto. (Era pelo menos, assim naquele tempo.) Mas a narração que nos fez
o comandante foi assaz singular:
"Tendo  ido  até  onde  a  lei  lhe  permitia,  sentiu-se  impelido,  por  força  inexplicável,  a
continuar a marcha, e isto apesar de não se avistarão longe nenhum navio. Seu piloto
protestou contra isso, lembrando-lhe a multa em que incorria.
"- Não posso resistir! Sou forçado a prosseguir viagem! foi a única resposta.
"Pouco  depois  começou  a  sofrer  um  desesperado  enjoo,  coisa  que  não  lhe  tinha
acontecido havia vinte anos, e viu-se forçado a retirar-se para o camarote; mas mesmo
assim  recusou-se  a  voltar,  dando  ordens  que  se  fizessem  ao  mar.  Então  a  tripulação
rebelou-se,  pois  já  começavam  a  sentir  falta  de  provisão,  e  resolveram  assumir  eles
próprios a direção do navio, julgando que o comandante perdera a razão.
"Neste  ponto  a  aflição  que  o  atormentava  tornou-se  agoniante,  e  implorou-lhes  que
continuassem a viagem, prometendo que, se ao nascer do Sol do dia seguinte não se lhes
deparasse coisa alguma que justificasse a sua ação,abandonaria o projeto e voltaria ao
porto.
"A isto os tripulantes acederam, com relutância; e,ao clarear o dia, o homem no cesto
da gávea avisou que via, ao longe, um objeto escuro e imóvel.
"- Aproai ao mesmo! exclamou o comandante peremptoriamente. É isso mesmo o que
procuramos.
"Nesse mesmo instante lhe passou o enjoo, e ele reassumiu o posto de comando, como
dantes. Quando, al alcançar-nos, deu com os olhos sobre os corpos macilentos e nossa
desconsolada miséria, apossou-se dele com força irresistível - embora tivesse sido ateu
havia muitos anos - a convicção de que um poder sobrenatural o havia guiado, e de que
existia um Deus no Céu. Mais tarde, quando soube como minha extenuada mãe havia
passado a noite em oração, ampliou a sua fé a ponto de incluir o fato de ser esse Deus
um Deus que ouve as orações de Seus filhos e a elas atende."
Selecionado do Livro Pérolas Esparsas

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Lenda Russa-O Luto dos Pássaros

Dois pássaros, um macho e outra fêmea, tinha construído um ninho nos ramos de uma árvore. Eles tinham uma pequena família de filhotes. Geralmente, o pássaro macho sai em busca de alimento, enquanto que a fêmea fica guardando os filhotes. Um dia, quando o pássaro macho estava fora, um caçador veio e mirou a ave fêmea. Embora a ave fêmea visse isso, ela não estava disposta a voar para longe, porque o caçador poderia matar os filhotes. Encontrando a sua oportunidade, o caçador derrubou a fêmea com uma seta. O pássaro macho então voltou para o ninho e encontrou a fêmea morta pelas mãos do caçador, começou a chorar e lamentar junto com os filhotes. Se, em vez disso tivesse batido suas asas, teria escapado vivo. Mas como ele sentou-se assim de luto pela morte de sua companheira, o caçador mira outra flecha para ele e trouxe-o para baixo, também. Então, ele só tinha que subir na árvore e recolher os filhotes. Assim, a família inteira, pereceu sem um esforço de salvar-se.
Assim acontece com os seres humanos aqui. Os pais estão muito ligados aos seus filhos e netos, e não percebe a morte se aproximar, mesmo quando a morte olha-los em seus rostos, cegos, e eles se agarram a seus filhos, enquanto a morte inevitavelmente arrasta distância. Quando um ente querido morre, é um sinal para a pessoa enlutada a valer-se de suas asas de Viveka e desapego e voar para os Reinos do Imortal, fazendo Sadhana rigorosa. Pelo contrário, os enlutados têm lamentos sobre a perda e se torna mais e mais ligado à família. O caçador (morte) facilmente obtém a próxima vítima. Assim, um a um, as pessoas entram na casa de Yama, sem oferecer a mínima resistência. Mesmo sabendo que a morte é inevitável, eles se sentam ocioso convidando-o, em vez de se ocupar em conquistá-la. Ó homem, você tem as asas de Viveka e desapego; voe para longe antes que o caçador atire em você.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

E, e, e - de Robin L. Silverman

No canto de minha escrivaninha há um bilhete, amarelando lentamente e enrugado
pelo tempo.
É um cartão mandado por minha mãe, contendo apenas quatro frases, mas com
impacto suficiente para mudar minha vida para sempre.
Nele, ela elogia, sem restrições, minhas habilidades como escritora. Cada frase está
cheia de amor, oferecendo exemplos específicos do que minha atividade significou para ela
e meu pai.
A palavra "porém" nunca aparece no cartão. Entretanto, a palavra "e" está lá quase
meia dúzia de vezes.
Sempre que o leio - o que acontece quase todos os dias lembro-me de perguntar a
mim mesma se estou fazendo a mesma coisa por minhas filhas. Perguntei-me quantas
vezes eu disse "mas" a elas e a mim mesma, afastando-nos da felicidade.
Odeio dizer que foi com mais freqüência do que eu gostaria de admitir.
Ainda que nossa filha mais velha normalmente só tirasse dez em seu boletim, nunca
houve um semestre em que pelo menos um dos professores não sugerisse que ela falava
demais em sala de aula. Eu sempre me esquecia de perguntar-lhes se ela estava
melhorando quanto ao controle de seu comportamento, se seus comentários contribuíam
para a discussão em andamento ou encorajavam um aluno mais calado a falar. Em vez
disso, eu ia para casa e a cumprimentava:
"Parabéns! Seu pai e eu estamos muito orgulhosos de suas realizações, mas será
que você poderia tentar baixar o tom em sala de aula?"
O mesmo era verdade para nossa filha mais nova. Como sua irmã, ela era uma
criança adorável, inteligente, articulada e amigável. Ela também trata o chão de seu quarto
e do banheiro como um armário, o que me levou a dizer, em mais de uma ocasião: "Sim,
este projeto é ótimo, mas arrume o seu quarto!"
Percebi que outros pais fazem a mesma coisa: "Toda a nossa família estava junta no
Natal, mas Kyle escapuliu cedo para brincar com seu novo jogo de computador", "O time de
hóquei ganhou, mas Mike deveria ter feito aquele último gol", "Amy é a Rainha da
Primavera, mas agora quer duzentos dólares para comprar um vestido e sapatos novos".
Mas, mas, mas.
Ao contrário, aprendi com minha mãe que, se você quer realmente que o amor flua
para seus filhos, comece a pensar "e, e, e...".
Por exemplo: "Toda a nossa família estava junta no jantar de Natal, e Kyle conseguiu
ficar craque em seu novo jogo de computador antes que a noite tivesse terminado", "O time
de hóquei ganhou e Mike fez o melhor que pôde durante todo o jogo", "Amy é a Rainha da
Primavera e ela vai estar linda!".
A verdade é que "mas" não nos faz sentir bem e "e" faz. E quando falamos de nossos
filhos, sentir-se bem é o que temos que fazer. Quando se sentem bem a respeito de si
mesmos e do que estão fazendo, fazem ainda mais, aumentando sua autoconfiança, seus
critérios e as conexões harmoniosas com os outros. Quando tudo o que dizem, pensam ou
fazem é qualificado ou desprezado de alguma maneira, sua felicidade azeda e sua raiva
aumenta.
Isso não quer dizer que as crianças não precisam ou não irão corresponder às
expectativas de seus pais. Precisam e vão, independente dessas expectativas serem boas
ou ruins. Quando essas expectativas são consistentemente inteligentes e positivas e então
são ensinadas, modeladas e expressas, coisas inacreditáveis acontecem:
"Vejo que você cometeu um erro. E sei que você é inteligente o bastante para
descobrir o que fez errado e tomar uma decisão melhor da próxima vez." Ou: "Você está há
horas trabalhando nesse projeto. Adoraria que o explicasse para mim." Ou: "Nós
trabalhamos duro para ganhar dinheiro e sei que você pode nos ajudar a descobrir um jeito
de pagar pelo que você quer."
Não basta dizer que amamos nossos filhos. Em uma época em que a frustração
cresceu aterradoramente, não podemos mais nos dar ao luxo de limitar a expressão do
amor.
Se quisermos diminuir o som da violência em nossa sociedade, te
remos que aumentar o volume da atenção, do elogio, da orientação e da participação
no que é correto para nossos filhos.
"Chega de mas!" é o toque de chamada para a felicidade. Também é um desafio, a
oportunidade fresca diante de nós, todos os dias, de concentrarmos nossa atenção no que é
bom e promissor a respeito de nossos filhos e de acreditarmos de todo o coração que eles,
eventualmente, serão capazes de ver o mesmo em nós e nas pessoas com quem, no final,
irão viver, trabalhar e servir.
E, se algum dia eu me esquecer, tenho o bilhete de minha mãe para lembrar-me.

"50 Histórias Para Aquecer o Coração"

domingo, 25 de dezembro de 2011

O grande dom da minha mãe - de Marie Ragghiandi


“O otimismo é uma disposição alegre que permite que um bule de chá assobie apesar de estar com água quente até o nariz.” (Anônimo)

Eu tinha dez anos de idade quando minha mãe teve paralisia, causada por um tumor
na espinha dorsal. Antes disso ela havia sido uma mulher vibrante e vigorosa, de tal
maneira ativa que a maioria das pessoas achava impressionante.
Mesmo quando era pequena, eu ficava admirada com suas realizações e por sua
beleza. Porém, quando tinha trinta e um anos, sua vida mudou. Assim como a minha.
Do dia para a noite, parecia, ela passou a ficar deitada de costas em uma cama de
hospital. Um tumor benigno a havia incapacitado, mas eu era jovem demais para
compreender a ironia da palavra "benigno", pois ela nunca mais seria a mesma.
Ainda tenho imagens vívidas dela antes da paralisia. Ela sempre foi gregária e
recebia muitas visitas. Com freqüência passava horas preparando canapés e enchendo a
casa de flores,
que colhia frescas no jardim cultivado ao lado da casa. Selecionava as músicas
populares da época e rearrumava a mobília a fim de abrir espaço para que os amigos
pudessem se entregar à dança. Na realidade, era minha mãe quem mais gostava de dançar.
Hipnotizada, eu a observava se vestir para as festividades noturnas. Mesmo hoje em
dia ainda me lembro de nosso vestido favorito, com sua saia preta e corpete de renda azulmarinho,
o contraste perfeito para seu cabelo louro. Fiquei tão emocionada quanto ela no
dia em que trouxe para casa sapatos de salto alto de renda preta e, naquela noite, minha
mãe certamente era a mulher mais bonita do mundo.
Eu acreditava que ela podia fazer qualquer coisa, fosse jogar tênis (ganhara
campeonatos na universidade), costurar (fazia todas as nossas roupas), tirar fotografias
(ganhou um concurso nacional), escrever (era colunista de um jornal) ou cozinhar
(especialmente pratos espanhóis para meu pai).
Agora, apesar de não poder fazer nenhuma dessas coisas, ela encarava sua doença
com o mesmo entusiasmo que tinha em relação a tudo o mais.
Palavras como "deficiente" e "fisioterapia" tornaram-se parte de um estranho mundo
novo no qual entramos juntas, e as bolas de borracha para crianças que ela se esforçava
para apertar adquiriram um simbolismo que jamais haviam possuído.
Gradualmente, passei a ajudar nos cuidados com a mãe que sempre cuidara de mim.
Aprendi a cuidar do meu próprio cabelo - e do dela. Eventualmente, tornou-se rotina levá-la
na
cadeira de rodas até a cozinha, onde ela me ensinava a arte de descascar cenouras e
batatas e como esfregar alho e sal e pedaços de manteiga em uma boa carne assada.
Quando, pela primeira vez, ouvi falarem em uma bengala, opus-me:
- Não quero que a minha linda mãe use uma bengala. Mas a única coisa que ela
disse foi:
- Não é melhor você me ver andando com uma bengala do que não me ver andando
de maneira alguma?
Cada conquista era um marco para nós duas: a máquina de escrever elétrica, o carro
com câmbio e freio automáticos, sua volta à universidade, onde se diplomou em Educação
Especial.
Ela aprendeu tudo o que podia sobre as pessoas com deficiências e acabou fundando
um grupo ativista de apoio chamado Os Incapacitados. Certo dia, sem ter falado muito de
antemão, ela me levou e a meus irmãos a uma reunião dos Incapacitados. Eu nunca vira
tantas pessoas com tantas deficiências. Voltei para casa, silenciosamente introspectiva,
pensando em como nós realmente tínhamos sorte. Ela nos levou muitas vezes depois disso
e, eventualmente, a visão de um homem ou uma mulher sem pernas ou braços não nos
chocava mais. Minha mãe também nos apresentou a vítimas de paralisia cerebral,
enfatizando que a maioria era tão inteligente quanto nós, talvez mais. E nos ensinou a nos

comunicarmos com os retardados mentais, mostrando como eles eram freqüentemente
mais afetuosos, comparados às pessoas normais. Durante tudo isso, meu pai continuou a
amá-la e apoiá-la.
Quando eu estava com onze anos, minha mãe me contou que ela e papai iriam ter
um bebê. Muito depois, eu soube que seus médicos tinham insistido para que ela fizesse um
aborto (terapêutico) - uma opção à qual ela resistiu veementemente.
Logo, éramos mães juntas, já que virei mãe adotiva de minha irmã, Mary Therese.
Em pouquíssimo tempo aprendi a trocar fraldas, banhá-la e alimentá-la. Ainda que
mamãe tenha mantido a disciplina maternal, para mim foi um passo gigantesco além da
brincadeira com bonecas.
Um momento se destaca mesmo hoje em dia: o dia em que Mary Therese, na época
com dois anos, caiu e esfolou o joelho, abriu-se em prantos e passou correndo pelos braços
estendidos de minha mãe para os meus. Tarde demais, eu vislumbrei a faísca de dor no
rosto de mamãe, mas tudo o que ela disse foi:
- É natural que ela corra para você, pois você toma conta dela tão bem...
Como minha mãe aceitava sua condição com tanto otimismo, raramente me senti
triste ou ressentida. Mas nunca irei esquecer o dia em que minha complacência foi
destruída.
Muito tempo depois da imagem de minha mãe em salto agulha ter se dissipado da
minha consciência, houve uma festa em nossa casa. A essa altura eu era adolescente, e vi
minha sorridente mãe sentada na lateral, olhando seus amigos dançarem, e fui atingida
pela cruel ironia de suas limitações físicas. Subitamente, fui transportada de volta à época
de minha primeira infância e a visão de minha mãe dançando radiante estava novamente
diante de mim.
Imaginei se mamãe se lembraria também. Espontaneamente, andei em sua direção
e então vi que, apesar de estar sorrindo, seus olhos estavam marejados de lágrimas.
Corri para fora do aposento e para o meu quarto, enterrei meu rosto no travesseiro e
chorei copiosamente - todas as lágrimas que ela jamais chorara. Pela primeira vez, eu me
enraiveci contra Deus e contra a vida e suas injustiças para com a minha mãe.
A lembrança do sorriso brilhante de minha mãe permaneceu comigo. Daquele
momento em diante, enxerguei sua habilidade de superar a perda de tantas batalhas
anteriores e seu ímpeto em olhar para a frente - coisas que eu tomava por certas - como
um grande mistério e uma poderosa inspiração.
Quando eu estava crescida e comecei a trabalhar com o sistema penal, mamãe se
interessou em trabalhar com os prisioneiros. Ela telefonou para a penitenciária e pediu para
dar aulas de Redação Criativa para os detentos. Lembro-me de como eles se amontoavam
em volta dela sempre que ela chegava e pareciam se agarrar a cada palavra sua, como eu
fizera na infância.
Mesmo quando não podia mais se deslocar até a prisão, ela freqüentemente se
correspondia com vários detentos.
Um dia pediu-me para enviar uma carta para um prisioneiro, ''Waymon”. Perguntei
se poderia lê-la antes e ela concordou, sem perceber, eu acho, o quanto aquilo seria
revelador para mim.
Dizia:
"Querido Waymon,
Quero que saiba que tenho pensado em você com freqüência desde que recebi sua
carta. Você mencionou como é difícil estar preso atrás das grades e meu coração se une ao
seu. Mas quando você disse que eu não imagino o que é estar na prisão, senti-me
compelida a dizer-lhe que está errado.
Existem diferentes tipos de liberdade, Waymon, diferentes tipos de prisões. Às
vezes, nossas prisões são auto-impostas.
Quando, com a idade de trinta e um anos, levantei-me um dia para descobrir que
estava completamente paralisada, senti-me em uma armadilha - dominada pela sensação de estar presa dentro de um corpo que não mais me permitiria correr através de uma
campina, dançar ou carregar minha filha nos braços.
Fiquei deitada ali durante muito tempo, lutando para chegar a um acordo com minha
enfermidade, tentando não sucumbir em autopiedade. Perguntei-me se, na verdade, valeria
a pena viver nessas condições, se não seria melhor morrer.
Pensei a respeito desse conceito de prisão, pois me parecia que havia perdido tudo o
que importava na vida. Eu estava próxima do desespero.
Mas, então, um dia me ocorreu que, na realidade ainda havia opções abertas para
mim e que eu tinha a liberdade de escolher entre elas. Será que eu iria sorrir quando visse
meus filhos de novo, ou iria chorar? Iria zangar-me em Deus, ou iria pedir que Ele
fortalecesse minha fé?
Em outras palavras, o que eu iria fazer com o livre-arbítrio que Ele havia me dado e
que ainda era meu?
Tomei a decisão de lutar, enquanto estivesse viva, para viver o mais plenamente
possível, para procurar tornar minhas experiências aparentemente negativas em
experiências positivas, procurar formas de transcender minhas limitações físicas expandindo
minhas fronteiras mentais e espirituais.
Eu podia escolher entre ser um exemplo positivo para meus filhos ou podia murchar
e morrer emocional assim como fisicamente.
Existem muitos tipos de liberdade, Waymon. Quando perdemos um tipo de
liberdade, temos que simplesmente procurar por outro. Você e eu somos abençoados com a
liberdade de escolher entre bons livros, que iremos ler, quais deixaremos de lado.
Você pode olhar para as suas grades ou pode olhar através delas. Você pode ser um
exemplo para prisioneiros mais jovens ou pode se misturar com os encrenqueiros.
Você pode amar a Deus e buscar conhecê-lo ou pode virar as costas para Ele.
Até certo ponto, Waymon, estamos nisso juntos. "
Quando finalmente terminei de ler a carta, minha visão estava borrada pelas
lágrimas. Ainda assim, pela primeira vez, eu enxerguei minha mãe com clareza.
E eu a entendi. 

" 50 Histórias para Aquecer o Coração"

Criando raízes - de Philip Gulley


“Nossa força vem de nossas fraquezas.” (Ralph Waldo Emerson)

Quando eu era pequeno, tinha um velho vizinho chamado Dr. Gibbs. Ele não se
parecia com nenhum médico que eu jamais houvesse conhecido. Todas as vezes em que eu
o via, ele estava vestido com um macacão de zuarte e um chapéu de palha cuja aba da
frente era de plástico verde transparente. Sorria muito, um sorriso que combinava com seu
chapéu - velho, amarrotado e bastante gasto.
Nunca gritava conosco por brincarmos em seu jardim. Lembro-me dele como alguém
muito mais gentil do que as circunstâncias justificariam.
Quando o Dr. Gibbs não estava salvando vidas, estava plantando árvores. Sua casa
localizava-se em um terreno de dez acres, e seu objetivo na vida era transformá-lo em uma
floresta.
O bom doutor possuía algumas teorias interessantes a respeito de jardinagem. Ele
era da escola do "sem sofrimento não
há crescimento". Nunca regava as novas árvores, o que desafiava abertamente a
sabedoria convencional. Uma vez perguntei-lhe por quê. Ele disse que molhar as plantas
deixava-as mimadas e que, se nós as molhássemos, cada geração sucessiva de árvores
cresceria cada vez mais fraca. Portanto, tínhamos que tornar as coisas difíceis para elas e
eliminar as árvores fracas logo no início.
Ele falou sobre como regar as árvores fazia com que as raízes não se
aprofundassem, e como as árvores que não eram regadas tinham que criar raízes mais
profundas para procurar umidade. Achei que ele queria dizer que raízes profundas deveriam
ser apreciadas.
Portanto, ele nunca regava suas árvores. Plantava um carvalho e, ao invés de regálo
todas as manhãs, batia nele com um jornal enrolado. Smack! Slape! Pou!
Perguntei-lhe por que fazia isso e ele disse que era para chamar a atenção da
árvore.
O Dr. Gibbs faleceu alguns anos depois. Saí de casa. De vez em quando passo por
sua casa e olho para as árvores que o vi plantar há cerca de vinte e cinco anos. Estão fortes
como granito agora. Grandes e robustas. Aquelas árvores acordam pela manhã, batem no
peito e bebem café sem açúcar.
Plantei algumas árvores há alguns anos. Carreguei água para elas durante um verão
inteiro. Borrifei-as. Rezei por elas. Todos os nove metros do meu jardim. Dois anos de
mimos resultaram em árvores que querem ser servidas e paparicadas. Sempre que sopra
um vento frio, elas tremem e balançam os galhos. Árvores maricas.
Uma coisa engraçada a respeito das árvores do Dr. Gibbs: a adversidade e a
privação pareciam beneficiá-las de um modo que o conforto e a tranqüilidade nunca
conseguiriam.
Todas as noites, antes de ir dormir, dou uma olhada em meus dois filhos. Olho-os de
cima e observo seus corpinhos, o sobe e desce da vida dentro deles.
Freqüentemente rezo por eles. Rezo principalmente para que tenham vidas fáceis.
"Senhor, poupe-os do sofrimento." Mas, ultimamente, venho pensando que é hora de
mudar minha oração.
Essa mudança tem a ver com a inevitabilidade dos ventos gelados que nos atingem
em cheio. Sei que meu filhos irão encontrar dificuldades e minha oração para que isto não
aconteça é ingênua. Sempre há um vento gelado soprando em algum lugar.
Portanto, estou mudando minha oração vespertina. Porque a vida é dura, quer o
desejemos ou não. Em vez disso, vou rezar para que as raízes de meus filhos sejam
profundas, para que eles possam retirar forças das fontes escondidas do Deus eterno.
Muitas vezes rezamos por tranqüilidade, mas essa é uma graça difícil de alcançar.
O que precisamos fazer é rezar por raízes que alcancem o fundo do Eterno, para que
quando as chuvas caiam e os ventos soprem não sejamos varridos em direções diferentes.

"50 Histórias Para Aquecer o Coração"