Durante largo período foi o Sistã sabiamente governado por um rei bondoso e justo que se chamava Romenide.
Esse monarca, tão estimado pelos seus súditos, tinha onze filhos. Inútil será dizer que os onze príncipes, exaltados e turbulentos, ambicionavam o trono e pretendiam conquistar o ouro e o poder.
No dia em que completou o seu octogésimo oitavo aniversário sentiu-se o rei Romenide gravemente enfermo.
- Logo que eu fechar os olhos para a vida - pensou o velho monarca - meus filhos, sem pesar os interesses da nação e o bem-estar de meus súditos, entrarão cegamente em conflito para a conquista do trono. Haverá lutas terríveis e as guerras civis trarão a ruína e a miséria para o meu povo.
Que fez, então, o rei?
Mandou reunir, na grande e suntuosa sala do trono, os seus onze filhos e na presença dos vizires, nobres e altos dignitários do reino disse-lhes:
- Bem sei que poucos meses me restam de vida. E certo estou de que por minha morte desejarão os meus filhos dividir o meu reino em onze partes cabendo, assim, uma parte para cada um. Não sei como julgar importuna essa forma de partilha. Exijo, porém, uma condição: a partilha do território - que atualmente constitui um só reino - deve ser feita de tal modo que quatro cores não sejam suficientes para colorir o novo mapa de nosso país!
Os príncipes juraram, na presença dos nobres e vizires, que atenderiam rigorosamente à exigência feita pelo rei Romenide.
Algumas semanas depois, em conseqüência de um ataque súbito do coração, faleceu o bondoso soberano.
Decorrido o período de luto que as grandes cerimônias exigiam, prepararam-se logo os onze príncipes para a partilha das terras do Sistã. E como achassem um pouco estranha a exigência paterna resolveram consultar sobre o caso um famoso geógrafo.
O sábio explicou:
- Se o reino for dividido em duas partes é claro que com duas cores posso preparar facilmente o novo mapa. Cada novo país será distinguido por uma cor. Se o Sistã for dividido em três províncias distintas, três cores bastarão para a preparação do novo mapa. Se o país for dividido, porém, em quatro, em cinco ou em qualquer número de partes, com quatro cores poderá ser colorido o novo mapa, sem que fiquem dois países vizinhos com a mesma cor.
- E se o território for dividido em onze partes? - interpelou o príncipe mais velho.
- Mesmo nesse caso - respondeu tranqüilo o geógrafo - o novo mapa, com os onze novos países, poderá ser colorido apenas com quatro cores distintas. E não ficarão dois países vizinhos com a mesma cor!
E receoso de que as suas palavras pudessem contrariar os príncipes, acrescentou:
- Esse problema das quatro cores do mapa é um problema de alta Matemática. Acho, pois, que deveis consultar um matemático ou um algebrista.
Os onze príncipes, nesse mesmo dia, procuraram ansiosos o maior e mais prestigioso matemático do país.
- Seria, possível - indagaram, - retalhar o país em onze partes tais que o novo mapa não pudesse ser colorido apenas com quatro cores?
Respondeu com segurança o douto matemático:
- O problema que acabais de me propor é inteiramente insolúvel. Fosse, embora, o país dividido em vinte mil Estados poderíamos distinguir no novo mapa um Estado do outro empregando apenas quatro cores. E não ficariam dois Estados vizinhos indicados pela mesma cor.
- É incrível - objetou impaciente o príncipe mais moço - que meu Pai, que foi sempre judicioso e esclarecido, tenha imposto para a partilha do reino uma condição que a ciência declara impossível.
- Quero crer - respondeu o matemático que vosso Pai agiu com grande sabedoria e prudência. Exigindo para a partilha do reino uma condição reputada inviável, ele quis apenas mostrar a seus herdeiros que a divisão do reino em pequeninos Estados seria um erro grave, uma medida desastrosa para o povo. Da divisão resultaria a fraqueza, a desordem, a decadência. Se o país se conservar unido sob um chefe único, continuará poderoso e forte!
Os príncipes - impressionados com as judiciosas palavras do sábio e resolvidos a obedecer aos conselhos paternos, desistiram de seus planos ambiciosos. Entregaram o governo ao mais velho e conservaram, para a felicidade do povo, a integridade territorial do país.
Uassalã!
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