Conta-se que Adriano, o temido imperador, mandou, certa vez, viesse à sua presença o sábio Gamaliel e, com o intuito de confundi-lo diante da corte, interpelou-o desta forma:
- Dize-me, ó judeu! - Aquele que rouba é ou não é um ladrão?
- Sim - concordou o rabi Gamaliel. - Não há como negar a evidência: Aquele que rouba é ladrão.
Ouvida esta resposta, volveu o romano com rispidez:
- Então o teu Deus é um ladrão, um trapaceiro, pois, segundo ensina o teu Livro Santo, Deus fez dormir Adão, e durante o sono, furtou-lhe uma costela.
Nesse momento, a jovem Raquel, filha do rabi, que ouvira o diálogo oculta atrás de um reposteiro, surgiu de improviso na sala e, acercando-se do trono de César, implorou aflita:
- Senhor! Venho pedir justiça! Fui roubada! Miseravelmente roubada!
- Como foi isso? - indagou surpreso o soberano.
- Entrou um ladrão em minha casa, durante a noite, e furtou-me pequeno cântaro de barro. E o trapaceiro deixou, no lugar, precioso vaso de ouro, cheio de rubis e diamantes! Peço justiça!
- Mas minha filha - ponderou o imperador, com malicioso sorriso - quem me dera um ladrão assim, todas as noites, assaltando os meus aposentos e levando tudo o que é meu! Esse homem não agiu como um ladrão, mas sim, como um benfeitor!
Ao ouvir tais palavras prorrompeu com altivez a filha de Gamaliel:
- Como queres, então, ó César!, atirar sobre o nosso Deus, sobre o Deus dos Judeus, o libelo de ladrão? Lembra-te de que ele furtou de Adão uma costela, e deixou, em troca, uma linda e dedicada esposa...
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