quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Escrevendo na Pedra ou na Areia

ois amigos, Mussa e Nagib, viajavam pelas extensas estradas que circundam as tristes e sombrias montanhas da Pérsia. Ambos se faziam acompanhar de seus ajudantes, servos e caravaneiros.
Chegaram certa manhã às margens de um grande rio barrento e impetuoso, em cujo seio a morte espreitava os mais afoitos e temerários.
Era preciso transpor a corrente ameaçadora.
Ao saltar, porém, a uma pedra, o jovem Mussa foi infeliz. Falseando-lhe o pé, precipitou-se no torvelinho espumante das águas em revolta.
Teria ali perecido, arrastado para o abismo se  não fosse Nagib.
Este, sem um instante de hesitação, atirou-se à correnteza e lutando furiosamente conseguiu trazer a salvo o companheiro de jornada.
Que fez Mussa?
Chamou, no mesmo instante, os seus mais hábeis servos, ordenou-lhes gravassem na face mais lisa de uma grande pedra, que perto se erguia, esta legenda admirável:
"Viandante! Neste lugar, durante uma jornada, Nagib salvou heroicamente o seu amigo Mussa".
Isto feito, prosseguiram, com suas caravanas, pelos intérminos caminhos de Allah.
Alguns meses depois, de regresso às suas terras, novamente se viram forçados a atravessar o mesmo rio, naquele mesmo lugar perigoso e trágico.
E, como se sentissem fatigados, resolveram repousar algumas horas à sombra acolhedora do la- jeado que ostentava bem no alto a honrosa inscrição.
Sentados, pois, na areia clara, puseram-se a conversar.
Eis que, por motivo fútil, surge de repente grave desavença entre os dois companheiros.
Discordaram. Discutiam. Nagib, exaltado, num ímpeto de cólera, esbofeteou brutalmente o amigo.
Que fez Mussa? Que farias tu em seu lugar?
Mussa não revidou a ofensa. Ergueu-se e, tomando tranqüilo o seu 'bastão, escreveu na areia clara, ao pé do negro rochedo:
"Viandante! Neste lugar durante uma jornada. Nagib, por um motivo fútil, injuriou gravemente o seu amigo Mussa".
Surpreendido com o estranho proceder, um dos ajudantes de Mussa observou respeitoso:
- Senhor! Da primeira vez, para exaltar a abnegação de Nagib, mandaste gravar para sempre na pedra o feito heróico. E agora, que ele acaba de ofender-vos tão gravemente, vós vos limitais a escrever, na areia incerta, o ato de covardia! A primeira legenda, ó Xeque, ficará para sempre. Todos os que transmitem por este sítio dela terão notícia. Esta outra, porém, riscada no tapete de areia, antes do cair da tarde terá desaparecido, como um traço de espumas entre as ondas buliçosas do mar.
Respondeu Mussa:
- É que o benefício que recebi de Nagib permanecerá para sempre em meu coração. Mas a injúria, essa negra injúria, escrevo-a na areia como um voto, para que, se depressa daqui se apagar e se apague de minha lembrança!
 

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