sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Raposa e a Vinha

"Recompensou-me o SENHOR conforme a minha justiça e retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos, porque guardei os caminhos do Senhor e não me apartei impiamente do meu Deus" (Salmo 18:20-21).
 
Uma raposa pusera-se a namorar avidamente uma vinha tão bem cercada que não havia brecha por onde entrasse.
Deu voltas e mais voltas, até que topou um resquício entre os mourões da cerca.
Lançara-se por ele, impetuosamente, mas era tão estreito que mal pode insinuar a cabeça. Esforça-se daqui, tenta dali, mas tudo em vão. Veio-lhe, então, a idéia, um plano singular: "Se eu pudesse, monologava ela, emagrecer bastante passaria por esta brecha".
Resolvida a vencer a prova, submeteu-se a um estranho teor de vida: ficou três dias sem provar alimento, e pôs-se tão fina e magrinha que mais parecia um palito.
Toda ancha com o sucesso, esgueira-se pelo delgado vão e entra radiante, na vinha. Ali pode pagar-se de tudo quanto sofrera e passou alguns dias na mais regalada abundância.
Chegado o tempo de sair, receosa dos donos do vinhedo que não podiam tardar, corre à brecha por onde entrara e tenta meter-se por ela.
Aconteceu, porém, que a infortunada, naqueles poucos dias de regabofe, engordara tanto que não mais cabia ali.
Mais triste do que um mocho, desiste do intento e resolve repetir a provação por que passara, pondo-se, de novo, em rigoroso jejum até que, novamente magra como um esqueleto, lhe foi possível safar-se pelo agulheiro.
Estava, porém, tão fraca e debilitada, que parecia um cadáver.
Livre daquele cativeiro, olhou melancolicamente para a vinha e disse-lhe: "Adeus, não me apanharás mais. És sedutora e deliciosa. Tens em abundância frutos saborosos, mas que importa? De ti saio como entrei".
Assim o homem em relação aos bens e riquezas da vida terrena.
Ensinava o rabi Meir: O homem quando nasce tem os braços estendidos para a frente, como se dissesse: "É meu o mundo. Todo o mundo é meu!".
Quando morre, os traz ao longo do corpo, como a prevenir os que se aferram aos bens materiais: "Nada levo deste mundo. Deixo da Vida o que a Vida me deu!"

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